A Arte de Construir


Certas idéias são suscetíveis de exercer uma poderosa atração sobre os indivíduos isolados. Elas agrupam-se e tornam-se, assim, o pivô intelectual de uma associação.
Mas esta não saberia ser constituída pelo único fato de um agrupamento desprovido de toda estabilidade e de toda coesão. Para transformar uma aglomeração de individualidades díspares em um todo permanente, a intervenção de uma lei orgânica instituindo a vida coletiva é indispensável.
Em toda associação é preciso, pois, distinguir a idéia e a forma.
A idéia ou o espírito age como gerador abstrato: é o pai da coletividade da qual a mãe está representada pelo princípio plástico que lhe dá sua forma.
Esses dois elementos de geração e de organização estão representados em Maçonaria por duas colunas, das quais a primeira (masculina-ativa) faz alusão àquilo que estabelece e funda, enquanto a segunda (feminina-passiva) se relaciona àquilo que consolida e mantém.
O historiador, — se ele for esclarecido pelas luzes da filosofia, — não pode fazer abstração desses dois fatores essenciais. Para ele, os anais de nossa instituição remontam para além do ano de 1717, data de fundação da Franco-Maçonaria moderna; porque as idéias que então conseguiram tomar corpo haviam inspirado, em épocas anteriores, numerosas tentativas de criações similares.
Uma coletividade que se funda não saberia, de outra parte, improvisar sua organização. Todo ser se constitui conforme sua espécie, e ele beneficia-se nisso da experiência ancestral. Todo recém-nascido se torna assim o herdeiro de uma raça antiga, que revive nele, como ele mesmo viveu em toda cadeia de seus antecessores.
Colocando-se desse ponto de vista, é permitido assinar à Franco-Maçonaria uma origem das mais antigas, porque ela se relaciona a todas as confraternidades iniciáticas do passado.
Todavia essas parecem haver saído das primeiras associações de construtores, como se pode julgar de acordo com as circunstâncias que deram nascimento à arte de construir.
Oswald Wirth