A Jornada dos Quinze


Trata-se, o 10º Grau, de um daqueles que pertencem à categoria dos chamados Graus de Iluminação. Consagra-se à extinção de todas as paixões e de todas as tendências censuráveis, tendo por base a idéia de reconstrução.

Já no estágio anterior, quando Eleito dos Nove, sabíamos que AKIROP, um dos assassinos, morrera na caverna. Seu esqueleto pode ser visto no Oriente, armado ainda do malhete com que ferira Hiram. Salomão fez embalsamar sua cabeça, com intenção de deixá-la exposta até que se encontrassem os outros dois assassinos.

Seis meses depois do castigo, um dos intendentes de Salomão, BENGABER, na terra de GHETH, — que era tributária a Salomão, — empreendeu intensa busca, tentando descobrir se alguma pessoa suspeita se havia ocultado naquele país, pessoa esta que teria vindo de Jerusalém. Publicou, ainda, um aviso, em que fornecia a exata filiação dos traidores. Passados alguns dias, recebeu informações de que certos indivíduos, cuja descrição coincidia com a dos procurados, haviam estado ali, certamente confiantes de que estariam fora do alcance de seus perseguidores.

Salomão foi inteirado dos fatos. O Grande Monarca, então, escreveu ao Rei de Gheth, MAACHA, suplicando-lhe permitisse a captura dos criminosos e sua deportação a Jerusalém, onde haveriam de ser castigados pelo delito cometido. Restava a Salomão encarregar determinados homens do cumprimento de tão honrosa missão. Elegeu, então, Quinze Mestres – aqueles que maior confiança lhe inspiravam, dentre os quais estavam os Nove primeiros que já haviam ido à caverna de Joppe.

A jornada dos Quinze teve início no dia Quinze do mês TAMOUTH, que corresponde a Junho. Chegaram a 28 do mesmo mês ao país de GHETH, entregando a carta de Salomão a MAACHA. Sensível à súplica, o Monarca imediatamente ordenou que buscassem os malfeitores, e que, uma vez encontrados, se lhes entregassem aos Israelitas, declarando, ao mesmo tempo, alegria em ver sua terra livre de tais monstros. Ao cabo de cinco dias de indagações e procuras, ZERBAL e JOABEN descobriram-nos em BENDECAR, onde trabalhavam os assassinos. Presos, foram conduzidos a Jerusalém, onde chegaram aos Quinze dias do mês seguinte. Conduzidos os malfeitores à presença de Salomão, confessaram seus delito. Foram presos nas torres de ACHIZAR, até o dia da execução, quando deveriam expiar seu odioso crime através de uma terrível morte. Às dez horas da manhã do dia marcado para a execução pública, foram tirados das torres e amarrados a dois postes, com pés e mãos atados para trás. O verdugo abriu-lhes o peito até o púbis, e assim ficaram por oito horas, para que moscas e insetos lhes acudissem às entranhas, como testemunha a instrução: Após despidos, foram atados pelo pescoço e pendurados em dois postes, com o ventre aberto, e os braços amarrados para trás, para serem vistos por todos ... Durante oito horas, debaixo de um sol ardente, expostos à voracidade de toda classe de insetos, sofrendo morte cruel. Seus lamentos eram tão horríveis que chegaram a infundir compaixão até mesmo ao verdugo.

Às seis horas da tarde, cortaram-lhes as cabeças que foram colocadas junto a de AKIROP, às portas do Oriente, Ocidente e Meio Dia de Jerusalém. Seus corpos, foram arrojados por sobre as muralhas, para que servissem de pasto aos corvos e às feras. E assim sofreram as penas merecidas por seus crimes.
A temática universal encerra a morte do justo. Sim. A morte, o assassinato, a violência. Mas não apenas isso. Temos a morte, mas temos a ressurreição. O princípio cósmico universal, que preside a destruição e a transformação, o “trans”, de transitório, do não-permanente, ou seja, formas não estáticas, mas se trans-formam, mudam de forma. Por outro lado, o terrível crime, substancialmente a suposta vitória dos erros e das paixões sobre a verdade ou a virtude, esta só agora, no décimo grau, se faz conhecida. Até então, vive-se na esperança, na confiança de que, algum dia, seria expiado o crime que privou a todos da presença de nosso Mestre. E o que representavam os Companheiros celerados? Representavam a ambição, o fanatismo e a ignorância. E quem são os Quinze? São os representantes das virtudes e dos deveres maçônicos. Mas, poderão dizer alguns, de que valem as virtudes e os deveres, frente as forças da natureza? Não encarnam, tais forças, as forças do próprio destino? O que podem homens simples, ainda que de alguma boa vontade, contra os mistérios insondáveis da natureza?

No décimo Grau, os 15, investidos do misterioso avental, tornam o destino impotente em seus ataques. Os Quinze Mestres, imbuídos de todas as instruções, depositários das virtudes e cumpridores dos deveres, lograram capturar os assassinos. Mas, — vejam bem, — não foi uma captura a sorrelfa, feita de emboscada. Captura, morte, condenação e castigo, sim. Mas tudo dentro dos mais específicos moldes da Justiça, tudo precedido de respeito e de limites. Lembremo-nos de que nos primórdios do nascimento da idéia do Estado Político como tal, o castigo infringido aos culpados não foi dos mais terríveis. Apenas se apreciarmos os fatos, da ótica do Direito Moderno do Século XX, é que poderá nos parecer excessiva tal pena. Mas há que se fazer as considerações adequadas à época, à vida, e aos homens daquele tempo. Tomadas tais precauções, nada nos permite condenar tal sorte de castigo.
O crime de JUBELAS, JUBELOS e JUBELUM, só agora cativos, condenados e mortos, deitou sobre todos os Companheiros a sombra terrível da desconfiança. Sendo apenas três, multiplicaram-se por trezentos, e sobre o Segundo Grau criou-se o vezo da suspeita. É nele que maçom experimenta tradicionalmente indiferenciada sobre todos.