Segundo uma opinião corrente neste mundo, a vida é curta e, de minha parte, eu a encontro, ao contrário, extremamente longa para muitíssimas pessoas. Quantos encontraremos que não se queixem da brevidade da vida e que não tenham feito, sem embargo, outra coisa senão entediar-se ao longo de toda existência? Sim, é demasiado curta a vida para quem pensa, e demasiado longa para quem não pensa. O tempo voa quando trabalhamos e transcorre lentamente quando não fazemos nada. Sem ação, a vida em nada se diferencia da morte, e viver na ociosidade não é viver, mas apenas vegetar. Viver somente para si mesmo é viver pela metade. Interessar-se pela felicidade universal dos homens e trabalhar para isso é viver de verdade e ter a sensação de viver. Quão poucos são os que vivem neste mundo, e quantos são os que vegetam em vez de viver! Os ricos, orgulhosos de sua opulência e embriagados pelo incenso que lhes prodigalizam seus aduladores, não podem compreender o que é a vida. Os pobres, oprimidos pelo peso da miséria, humilhados pelo desprezo dos demais, tampouco a podem entender. Aqueles que se encontram em meio a grandes e pequenos, ricos e pobres, preocupando-se, a maior parte do tempo, apenas com aquilo que lhes incumbe, não a sentem tampouco. Quem vive, pois, em lugar de vegetar? Os filósofos. Sim, os filósofos unicamente compreendem o que é a vida, conhecem as oportunidades que apresenta e sabem aproveitá-las. Não vivem apenas para eles mesmos, senão que vivem, ademais, para os outros e, seguindo o exemplo do excelso Hermes, de quem têm por glória serem e chamarem-se discípulos, tão apenas vivem para fazer bem à sociedade humana. Pouco lhes importa que os adulem ou que os ameacem os poderosos da terra, que seus parentes os queiram ou os persigam, que seus amigos os sustentem ou os abandonem; nem por isso deixam de ser filósofos, ou seja, amantes da sabedoria. A vida tem, para eles, tanto mais atrativos quanto mais tempo lhes deixa para fazer o bem a quem o mereça; sua benevolência dirige-se àqueles que vivem para trabalhar, nunca àqueles que trabalham para viver.
A Magna Obra sem Véus para os Filhos da Luz, Cap.V, 1775.
OW