Apenas um final de ano.
Mais nada.
Leio de tudo. Dos clássicos e acadêmicos até almanaques populares e bulas de remédio. Excluindo revistas em quadrinhos, devoro qualquer tipo de literatura, mesmo aquela vista como dejeto cultural. Certamente já li e escrevi muita coisa, traduzi outras tantas, e meus arquivos estão cheios de traças que vieram das alturas do Himalaia. Este blog, então, vai ser o canal de saberes fragmentados, oficiais e oficiosos, que os Mestres do Imaginário oferecem a nossa indiscrição.
É Natal, dizem.
Reflexão
Quando um determinado grupo, uma vez investido no poder e ali
estabelecido por décadas, assume o controle econômico, social, artístico-cultural
e mesmo intelectual, não se pode imaginar ― teoricamente falando ― que ele
possa ser afastado do poder por um processo eleitoral que sofre inequívoca influência
econômica, social, artístico-cultural e intelectual.
Como escapar de um aparelhamento tão profundamente
arraigado?
O controle da economia, do repasse ou da privação de boa
parte dos ativos circulantes; o controle social, do trabalho ao laser; o
controle artístico e cultural, por um processo de financiamento que se associa
ao capital e que promove a ou b, guindando-os, se não à glória, ao sucesso; o
controle intelectual, com a prevalência de um pensamento que tende à unificação
prescritiva simultaneamente à proscrição de velhas fórmulas, primeiro
desqualificadas e depois afastadas.
Como vencer um poder que se estabelecesse sobre semelhantes
bases?
Pergunto-me, procurando compreender, o que explica um
processo eleitoral onde vimos prevalecer, pelo sufrágio, uma representação que
não detinha o poder econômico, que era sem representatividade social, que era absolutamente
inexpressiva no campo artístico-cultural, para dizer o mínimo, e que, do ponto
de vista da expressividade ou relevância intelectual, sem dúvida, nula?
Não posso responder. Mas posso refletir sobre o que escaparia
a tal aparelhamento, por exclusão. Saber o que tais forças não poderiam afetar
sensivelmente ou cooptar.
Até que ponto o intelecto, ufano do estatuto de
cientificidade que confere aos seus presumidos saberes, não despreza o pensar
prosaico do homem comum? Do pacato cidadão que não entende nada de arte moderna,
que mal suspeita de seu engajamento e que se contenta em saber o que é
indispensável ao seu agir. Sofrendo todos os efeitos de uma economia que se voltou
à satisfação de políticas partidárias em detrimento das políticas públicas, ele
se debate diante de um mundo compreende cada vez menos.
Pela própria simplicidade de sua visão de mundo, este homem
comum não se colocaria ele mesmo a salvo dos engajamentos político-partidários
ao mesmo tempo em que se mostraria suscetível à fidelidade, ou antes, à fé. Aderir a uma fé é simples, é como entregar-se ao maravilhoso, deixar-se
contagiar pelo mágico que nunca deixou de influir, inclusive, sobre espíritos
eminentes. Gustave Le Bon já nos advertiu de que, há 8.000 anos, se edificam
templos: pagodes, mesquitas ou catedrais. Tais monumentos, além de
materializarem o grau máximo de expressão artística de povos e de nações,
tenham o nome que tiverem, nascem de um sentimento idêntico: a Esperança, para
Le Bon, aliás, o único deus.
Sem suscitar as velhas explicações na ordem metafísica, fato
é que talvez exista, subjacente à nossa racionalidade, a estranha necessidade
de crer.
E, se for assim, aquele que crê se tornaria forte, menos pelo poder temporal que de fato exercesse do que pelo
poder espiritual que ele pudesse afetar diante
dos outros.
É que, às vezes, muitas respostas explicam bem menos que boas perguntas.
Fico com as últimas.
São as dúvidas e não as certezas que me seduzem.
É que, às vezes, muitas respostas explicam bem menos que boas perguntas.
Fico com as últimas.
São as dúvidas e não as certezas que me seduzem.
Más inclinações
"Cada um ouve conforme o seu coração e a sua inclinação. Deus nos livre de um coração mal inclinado. Se ouvir um Te Deum laudamus, há de dizer que ouviu uma carta de excomunhão. Os que ouvem, são os ouvidos; mas os que ouvem bem, ou mal, são os corações."
Vieira
Vieira
A propósito da racionalidade
"A
verdadeira racionalidade, aberta por natureza, dialoga com o real que lhe
resiste. Opera o ir e vir incessante entre a instância lógica e a instância
empírica; é o fruto do debate argumentado de ideias, e não a propriedade de um
sistema de ideias. O racionalismo que ignora os seres, a subjetividade, a
afetividade e a vida é irracional. A racionalidade deve reconhecer a parte de
afeto, de amor e de arrependimento. A verdadeira racionalidade conhece os
limites da lógica, do determinismo e do mecanicismo; sabe que a mente humana;
sabe que a mente humana não poderia ser onisciente, que a realidade comporta
mistério. Negocia com a irracionalidade, o obscuro, o irracionalizável. É não
só crítica, mas autocrítica. Reconhece-se a verdadeira racionalidade pela
capacidade de identificar suas insuficiências."
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do
futuro. São Paulo:
Cortez, 2011.
Pequenas lutas
"Car il se fait beaucoup de grandes actions dans les petites luttes. Il y a des bravoures opiniâtres et ignorées qui se défendent pied à pied dans l'ombre contre l'envahissement fatal des nécessités et des turpitudes. Nobles et mystérieux triomphes qu'aucun regard ne voit, qu'aucune renommée ne paye, qu'aucune fanfare ne salue. La vie, le malheur, l'isolement, l'abandon, la pauvreté, sont des champs de bataille qui ont leurs héros; héros obscurs plus grands parfois que les héros illustres."
Victor Hugo
Imagem: Victor Hugo em 1875, aos 73 anos, por Comte Stanisław. Fonte: Wikimedia Commons
Porque são necessárias muito grandes ações nas pequenas lutas. Há bravuras obstinadas e ignoradas que se protegem passo a passo na sombra contra a invasão fatal das necessidades e torpitudes. Nobres e misteriosos triunfos que ninguém vê, a que nenhuma celebridade paga, que nenhuma fanfarra saúda. A vida, a infelicidade, o isolamento, o abandono, a pobreza, são campos de batalha que têm seus heróis; heróis obscuros, maiores às vezes que os ilustres heróis.
Victor Hugo
Imagem: Victor Hugo em 1875, aos 73 anos, por Comte Stanisław. Fonte: Wikimedia Commons
Porque são necessárias muito grandes ações nas pequenas lutas. Há bravuras obstinadas e ignoradas que se protegem passo a passo na sombra contra a invasão fatal das necessidades e torpitudes. Nobres e misteriosos triunfos que ninguém vê, a que nenhuma celebridade paga, que nenhuma fanfarra saúda. A vida, a infelicidade, o isolamento, o abandono, a pobreza, são campos de batalha que têm seus heróis; heróis obscuros, maiores às vezes que os ilustres heróis.
Da alma vulgar
"O característico do momento atual é que a alma vulgar, sabendo-se vulgar, tem o denodo de afirmar o direito da vulgaridade e o impõem onde queira."
ORTEGA Y GASSET, José. A rebelião das massas. Trad. J. Catoira e Major Cláudio Barbosa. São Paulo: Edições e Publicações Brasil Ltda, 1933, p. 15.
Imagem: Ortega y Gasset em fotografia feita para publicação pela imprensa na década de 1920. Fonte: Creative Commons
ORTEGA Y GASSET, José. A rebelião das massas. Trad. J. Catoira e Major Cláudio Barbosa. São Paulo: Edições e Publicações Brasil Ltda, 1933, p. 15.
Imagem: Ortega y Gasset em fotografia feita para publicação pela imprensa na década de 1920. Fonte: Creative Commons
Ode ao bode
Isso lhe diz alguma coisa? Se você quiser de falar de
tragédia, no sentido teatral, sim. A palavra, que vem do grego (tragos: bode; oidé > ode: canção) e significa “ode ou canção ao bode”, animal do deus Dionísio, talvez a mais típica das divindades gregas,
fundador de quase todas as religiões e anterior mesmo à Hélade. Dotado pelos céus
de uma constituição robusta, Dionísio é o patrono absoluto dos prazeres e das
delícias deste mundo. Ligado ao culto da videira, ele é célebre por suas festas
anuais nas quais, inicialmente, os inimigos eram canibalizados. Depois, os costumes
foram suavizados, a ponto de os gregos conceberam horror à matança de seus
semelhantes, até porque o mesmo efeito podia ser obtido bebendo o vinho.
Fonte: VAN LOON, Hendrik Willem. A artes. Porto Alegre, Editora Globo, 1958.
Imagem: Baco, por Goya, 1778.
Reflexão
“Por que o infinito existe, se não podemos atingi-lo? ―
perguntava-se mestre Bernando. Qual é o sentido dessa grandeza ilimitada em
torno e nós, em torno da vida, se somos como prisioneiros impotentes e a vida
permanece confinada em si! Por que este incomensurável? Por que essas imensidades
cercando nosso vale estreito, nosso minúsculo destino? Somos por isso mais
felizes? Não me parece. Parece o contrário, concluía ele.”
LAGERKVIST, Pär. Le nain. Paris: Stock, 1946, p. 56.
I Ching
O milenar livro chinês das transmutações reflete a polaridade
das coisas. Dele resulta uma análise da realidade orientada pelo
antagonismo que se encontraria em certos domínios da existência: o bem e o mal,
o amor e o ódio, a alegria e a tristeza, beleza e feiura, etc. Todavia, esses
seres, coisas, fenômenos, enfim, estariam profundamente ligados entre si, o que
explicaria a facilidade com que migram de um polo a outro. Porque,
essencialmente, apenas a mudança seria real, o que faria da mutação, invariável
por excelência, o próprio caráter do mundo. Todos os caminhos seriam fluidos. De
acordo com Blofeld (1965, p. 45), o texto do I Ching seria, seguramente, bastante anterior
ao taoísmo e ao confucionismo surgidos como tais. Seu texto é atribuído ao Rei
Wên e ao Duque Chou. Não obstante isso, seus comentários seriam confucionistas.
BLOFELD, John. I Ching. O livro das transformações. Rio de Janeiro: Recornd, 1965.
Imagem: os 64 hexagramas sequenciais do Rei Wên.
Fonte: Creative Commons.
Sobre ser anjo
Cúpula: anjos combatendo demônios. Museu do Vaticano. |
Clarice Lispector
Maldizer para proteger
Isidorus Hispalensis, De summo bono,
manuscrit Latin 12268, 1086-1100.
"Hic est liber Sancti Petri Fossatensis. Si quis eum
furatus fuerit, anathema sit."
"Esse livro pertence a Saint-Pierre des Fossés [hoje
Saint-Maur-des-Fossés]. Se alguém roubá-lo, que ele seja anátema."
No universo cristão, anátema significa uma condenação
enérgica. A palavra tem origem grega: anathema. No caso, tratam-se
de maldições apostas em antigos manuscritos, de reconhecido valor espiritual e
material, com a finalidade de protegê-los de intenções malfazejas, de
apropriações indevidas, de empréstimos de duração ou de roubos.
Origenes, Homiliae in Vetus Testamentum, interpretibus
Hieronymo et Rufino, manuscrit Latin 11615, 1141-1160.
"Quicumque librum istum defraudaverit vel scienter
male tractaverit vel literas deleverit per malitiam suam sit anathema
maranatha, idest dampnatus et a consortio Dei separatus donec Dominus redeat ad
iudicium. Amen."
"Qualquer um que subtraia este livro ou
conscientemente o maltrate, ou apague seu texto por malignidade, que ele seja
anátema em nome de Deus, ou seja, maldito e excluído do povo de Deus até que o
Senhor retorne para o julgamento. Amem."
Fonte: Gallica, BNF.
O mundo dos deuses gregos
O mundo dos deuses gregos é um
mundo hierárquico. Foi precedido pelo Caos, massa informe e abissal que
continha, em estado latente, o gérmen de tudo aquilo que daí viria a emergir
mais tarde. De uma parte do Caos surgiu a Terra, Gea, assim como o Amor, Eros;
de outra, as Trevas e a Noite, Érebos e Nyx.
Gea gerou Urano, e ambos se
uniram depois para gerar os doze Titãs: seis do sexo masculino e seis do sexo
feminino. Geraram também três Ciclopes, monstros de um único olho circular na
face, que forjavam os raios de Zeus. Mas Urano odiava os seus filhos Titãs,
assim como os Ciclopes e também os seus filhos Hecatônquiros, que tinham cem mãos.
E, por odiá-los, devolveu-os ao seio de Gaia que, indignada, suscita contra o
pai seu filho Cronos. Este, com uma foice, mutila o pai e, do sangue derramado,
surgem as Erínias, os Gigantes, as Ninfas. Antes de morrer, porém, Urano prediz
a morte de seu filho Cronos, afirmando que também ele morreria nas mãos de um
de seus filhos. Temendo a profecia, Cronos passou a devorar cada um de seus
filhos já enquanto nasciam. Zeus, porém, que nasceu em Creta, foi ocultado do
pai por sua mãe Rea, que deu a Cronos uma pedra enrolada em um pano que ele
prontamente devorou.
Zeus, que cresce amamentado pelo
leite da cabra Amaltea, obriga o pai a devolver os filhos engolidos, inclusive
a pedra devorada em seu lugar, esta última vomitada como sinal para os humanos,
permanecendo depois em Delfos. Com a ajuda dos irmãos, Zeus luta contra o pai,
mas, dos Titãs, apenas Oceano, Têmis e Mnemósine se colocam a seu lado. A
guerra durou dez anos, até que Zeus, aconselhado por Gea, liberta os Ciclopes e
os Hecantônquiros que ainda se mantinham aprisionados no seio da esposa. Com a
ajuda deles, vence Cronos e seus Titãs, arrojando-os ao Tártaro sob a vigilância
dos Hecantôquiros. Cronos, porém, teria conseguido passar à Itália onde, sob o
nome de Saturno, tornou-se deus da fertilidade. Durante as festas que eram
dadas em sua homenagem, — as Saturnais —, os senhores serviam aos seus
escravos.
Mas Gea, irritada com a derrota
imposta aos filhos, suscita contra Zeus um monstro, Tifeo, dragão que desprende
fogo e vapor, que também é precipitado ao Tártaro por Zeus, que o fulmina com
um raio. Segundo outra tradição, porém, Tifeo é precipitado para o fundo do
monte Étna, de onde segue cuspindo fogo. Os gigantes, seres descomunais com
cauda de serpente, também se erguem contra Zeus, disparando, contra este,
pedras e troncos de árvores em fogo, ao que Zeus responde com raios. A vitória,
ele a obtém com a ajuda de Hércules e de suas flechas. Único soberano saído
dessas lutas, Zeus reparte o universo com seus irmãos Posseidon, e sua esposa
Nereida, filha de Nereu, com quem tem o filho Tritão, que fica com o mar, e
Hades, que fica com os infernos.
Fonte: SCHWAN, Gustav. Las más
belas leyendas de la Antigüedad Clásica. Barcelona: Labor, 1955.
Imagem: Nicolaes Pieterszoon Berchem: The infancy of Zeus. Wikimedia Commons.
Casanova e a pedra filosofal
On travaille à la pierre philosophale, et on ne s'en desabuse jamais.
J. Casanova de Seingalt
Examinando o manuscrito das memórias de Casavova que, finalmente, ― foram necessários duzentos anos para que pudéssemos desfrutar desse tesouro ― estão disponíveis na Biblioteca Nacional de França, deparei-me agora mesmo com esta frase. Por razões que nos escapam, ― dentre outras mudanças arbitrárias que o texto original sofreu ―, ela foi omitida da página 365 da edição francesa publicada sob o título Mémoires de J. Casavova de Seingalt écrits par lui-même suivis de fragments des mémoires du prince de ligne, Paris, editado pela Librairie Garnier Frères, provavelmente em 1933.
A figura acima corresponde ao recorte tomado a uma das 3.700 páginas manuscritas. Dei-me ao trabalho de limpar a imagem com a ajuda de um editor. Preservei a frase apenas. Trabalha-se a pedra filosofal e dela não se nos desiludimos jamais, disse ele, numa tradução livre, uma vez que não existe, em português, construção gramatical equivalente. Não que fosse um místico. Apesar de ter feito história também entre os magos de seu tempo, Casanova, se alguma coisa encontrou na famosa pedra, não foi senão aquilo que consistiu, para ele, no centro de sua vida: a liberdade.
Sem qualquer outra pretensão ou ambição que não fosse entregar-se livremente ao ato de viver, sem renunciar a prazer algum que seus sentidos pudessem lhe entregar, ele fez história e entrou nela desabusadamente. Deixou sua marca não apenas porque foi um grande sedutor, mas ainda ― coisa inesperada ― na literatura universal, onde se fez o centro de uma das mais duradouras polêmicas acerca de suas controvertidas memórias.
Receita de domingo
Apesar desse peso dominical, dessa santidade que vigora por 24 horas e que tenta nos santificar não obstante nossa irrenunciável humanidade, tenha você também um bom domingo.
Um bom e despretensioso domingo, seja ele com ou sem missa, seja ele com ou sem amores.
Tenha um bom domingo, ainda que você esteja de dieta e, optando pelo cinema e renunciando à missa, você até se santifique um pouco, dizendo não às pipocas.
Um bom e despretensioso domingo, seja ele com ou sem missa, seja ele com ou sem amores.
Tenha um bom domingo, ainda que você esteja de dieta e, optando pelo cinema e renunciando à missa, você até se santifique um pouco, dizendo não às pipocas.
Da medicina teológia
que vá cuidar na lavoira de hum campo e ali I pratique sua Sciencia com utilidade própria, e também de sua pátria.
Hum amante de mulheres , que se case se lho permitte o seu estado, quando não que estude suas enfermidades, suas mortes, e as
escreva para seu desengano, e beneficio das mesmas mulheres. Hum colérico igualmente que hum saudoso da
Pátria que faça viagens , ganhe o que comer com o suor de seu rosto, evite toda a ociosidade.
Hum ébrio que seja enfermeiro que
teve o vinho emético, e as bebidas purgativas
para os Hospitaes, e veja o que produzem os
remédios avinhados! oiça o que delle dizem os
Médicos, e se capacitem que nos licores espirituosos
lhe podem seus inimigos dar veneno
com
que vomite e fique estragado e morra."
A propósito do ato criador
"Quando analisamos a descrição de um ato, constatamos que a perfeição e a força de
convicção de sua imagem plástico-pictural se situam num contexto de sentido tornado
caduco, transcendente à consciência do executante no momento do ato, e nós mesmos,
leitores, não ficamos internamente envolvidos pelo objetivo e pelo sentido do ato — senão,
o mundo das coisas se introduziria na consciência do executante que vivemos internamente,
e sua expressividade externa se encontraria desagregada — nada esperamos do ato e não
temos nenhuma expectativa dele no futuro real que é substituído pelo futuro artístico,
sempre artisticamente predeterminado. A forma artística do ato é vivenciada fora do tempo
do acontecimento da minha vida, de um tempo marcado pela fatalidade. E no interior desse
tempo, não há ato que se me apresente sob seu aspecto artístico. Uma caracterização
plástico-pictural desativa o futuro real no qual se insere a fatalidade de meu destino, pois
ela só introduz um passado e um presente delimitados, a partir dos quais não há acesso ao
futuro vivo, incerto."
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Tradução de Maria Ermantina Galvão G. Pereira. São Paulo: Martins Fontes, 1977.
Imagem: Desenho de Genny Bleggi.
convicção de sua imagem plástico-pictural se situam num contexto de sentido tornado
caduco, transcendente à consciência do executante no momento do ato, e nós mesmos,
leitores, não ficamos internamente envolvidos pelo objetivo e pelo sentido do ato — senão,
o mundo das coisas se introduziria na consciência do executante que vivemos internamente,
e sua expressividade externa se encontraria desagregada — nada esperamos do ato e não
temos nenhuma expectativa dele no futuro real que é substituído pelo futuro artístico,
sempre artisticamente predeterminado. A forma artística do ato é vivenciada fora do tempo
do acontecimento da minha vida, de um tempo marcado pela fatalidade. E no interior desse
tempo, não há ato que se me apresente sob seu aspecto artístico. Uma caracterização
plástico-pictural desativa o futuro real no qual se insere a fatalidade de meu destino, pois
ela só introduz um passado e um presente delimitados, a partir dos quais não há acesso ao
futuro vivo, incerto."
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Tradução de Maria Ermantina Galvão G. Pereira. São Paulo: Martins Fontes, 1977.
Imagem: Desenho de Genny Bleggi.
Veredito
« J'en arrive à ma conclusion et j'énonce maintenant mon
verdict. Je condamne le christianisme, j'élève contre
l'Eglise chrétienne l'accusation la plus terrible qu'accusateur
ait jamais prononcée. Elle est pour moi la pire des
corruptions concevables, elle a voulu sciemment le comble
de la pire corruption possible. La corruption de l'Eglise
chrétienne n'a rien épargné, elle a fait de toute valeur une
non-valeur, de toute vérité un mensonge, de toute sincérité
une bassesse d'âme ( ... ) J'appelle le christianisme l'unique
grande malédiction, l'unique grande corruption intime,
l'unique grand instinct de vengeance, pour qui aucun
moyen n'est·assez venimeux, assez secret, assez souterrain,
assez mesquin - je l'appelle l'immortelle flétrissure de
l'humanité. »
FRIEDRICH NIETCHZSE
NIETZSCHE, Friedrich. L 'Antéchrist. Paris: Gallimard, 1974, p.118-120.
verdict. Je condamne le christianisme, j'élève contre
l'Eglise chrétienne l'accusation la plus terrible qu'accusateur
ait jamais prononcée. Elle est pour moi la pire des
corruptions concevables, elle a voulu sciemment le comble
de la pire corruption possible. La corruption de l'Eglise
chrétienne n'a rien épargné, elle a fait de toute valeur une
non-valeur, de toute vérité un mensonge, de toute sincérité
une bassesse d'âme ( ... ) J'appelle le christianisme l'unique
grande malédiction, l'unique grande corruption intime,
l'unique grand instinct de vengeance, pour qui aucun
moyen n'est·assez venimeux, assez secret, assez souterrain,
assez mesquin - je l'appelle l'immortelle flétrissure de
l'humanité. »
FRIEDRICH NIETCHZSE
NIETZSCHE, Friedrich. L 'Antéchrist. Paris: Gallimard, 1974, p.118-120.
Da morte dos mundos
Os mundos morrem, porque eles nascem. Nascendo-se, morre-se incessantemente. E a criação, sempre imperfeita, prossegue em incessantes metamorfoses. As estrelas extinguem-se sem que possamos dizer se essas filhas da luz, morrendo assim, não começam, como planetas, uma existência fecunda, e se os planetas, eles mesmos, não se dissolvem para se tornarem estrelas novamente. Nós sabemos apenas que não há mais repouso nos espaços celestes do que há sobre a Terra, e que a lei do trabalho e do esforço governa a infinidade de mundos.
Anatole France, Le Jardin d'Épicure.
Imagem: Retrato de Anatole France (1844-1924) por Anders Zorn (1860-1920). Fonte: Wikimedia Commons.
Uma coisa que escrevi para alguém um dia
Bem, sabes o
quanto eu gosto de ler artigos de um cara chamado Alain de BENOIST. Pois é.
Descobri um resumo que ele fez sobre tipologia dos estilos amorosos e, na hora, me lembrei dessas fórmulas simples que já vem prêt-a-penser...
O
texto refere-se a seis livros escritos sobre o tema
entre 1980 e 1992, e eu vou resumi-lo aqui para ti.
O negócio é
divertido. Haveria três tipos
primários de estilos amorosos:
Eros, o amor romântico e apaixonado;
Ludus, o amor com um componente lúdico; e
Storge, o amor com tendência amical.
Depois vinham mais três tipos secundários:
Mania, o amor fundamentado sobre a possessividade e
a dependência;
Pragma, o amor calculador; e
Ágape, o amor altruísta ou sacrificial.
Bom, esses três últimos tipos secundários foram postos em
relação com casais de tipos primários: Mania, por exemplo, era
considerado como uma mistura de Eros e de Ludus, mesmo sendo
qualitativamente diferente de um como de outro. Isso foi investigado dez anos
mais tarde por um tal de Hendrick que tentou mesmo criar um instrumento de
investigação que permitisse a análise fatorial da realidade e a fiabilidade
dessa classificação. Outros estudos mais recentes tentaram descobrir em que
medida essas seis categorias de amor diferentes podiam ser postas
estatisticamente em relação com traços psicológicos particulares. Uns caras
chamados Ian Mallandain et Martin F. Davies selecionaram, então, três traços
clássicos de temperamento: a Estima de Si, a Emotividade e a Impulsividade
e, agora o mais interessante, eles redefiniram as categorias identificadas
antes agora usando Frases Chaves, como o cara do Eneagrama, lembra?
Ficou assim:
Eros: “Meu parceiro e eu fomos atraídos um em
direção ao outro logo que nos vimos”.
Ludus: “Prefiro que meu parceiro não se sinta
nunca inteiramente seguro dos sentimentos que tenho por ele”.
Pragma: “Antes de me comprometer em uma relação
com alguém, esforço-me primeiro em saber que lugar isso vais ocupar na minha
vida”.
Ágape: “Eu sempre tento ajudar meu parceiro em
momentos difíceis”
Já a Estima de Si foi medida diante da
concordância ou discordância com frases tais como “estou sempre errado”
ou “não tenho uma boa opinião sobre mim mesmo”. A Emotividade,
com frases tais como “Estou sempre perturbado” “Tudo que acontece
reflete sobre mim” e a Impulsividade, “Sempre acho difícil
resistir à tentação”, “passo constantemente de um centro de interesse a
outro”.
Sabes o que os caras acharam?
Estima de Si foi encontrada correlata a Eros, ou seja, o
amor apaixonado vai de par com um sentido agudo da dificuldade em encontrar um
parceiro conforme à imagem ideal que se faz de si, mas exige também uma
personalidade capaz de aceitar os riscos inerentes a uma tal situação, mas
aparece negativamente em relação à Mania, ou seja, quanto mais os indivíduos se
mostram decepcionados pela existência e por eles mesmos, mais eles estão
prontos a aceitar não importa que parceiro. Isso até era esperado, mas foi
encontrada uma relação negativa também com Storge e Ágape.
Como se esperava também, a Emotividade apareceu associada
positivamente à Mania, sendo que o tipo maníaco caracteriza-se por uma propensão
ao ciúme possessivo e à necessidade de ser sem cessar assegurado sobre a
realidade dos sentimentos do outro. Mas também a Emotividade aparece associada
a Ludus, quando se poderia pensar que o fato de “jogar” com os sentimentos do
parceiro traduzisse uma menor implicação emotiva na relação. De outra parte,
contrariamente àquilo em que se poderia acreditar, a Emoção aparece
negativamente correlacionada com Eros.
Como previsto a Impulsividade apareceu correlata
positivamente com Ludus, mas também, o que não estava previsto, com Mania.
Com exceção de Eros, mais comum entre os jovens, a idade
parece não ter influência sobre a propensão ou a escolha de um tipo amorosa de
preferência a outro. No plano sexual, as mulheres aderem mais freqüentemente
que os homens a Storge e menos freqüentemente que eles ao tipo Ágape.
Em resumo, acho que está aí uma ideia e tanto para ser
desenvolvida ao nível das pessoas comuns. É simples e, ao que eu saiba, os
conceitos todos são prontos...
Beijos!
Imagem: Jan Olis Amor mit Bogen.jpg Deutsch: Amor mit Bogen. Monogrammiert. ÖL/Kupfer, 38 x 28 cm. Date before 1676 Source Düsseldorfer Auktionshaus Fonte: Wikipedia Commons
Écrasez l’infâme!
"O conceito de «além», de «mundo verdadeiro», foi inventado para desvalorizar
o único mundo que existe – para destituir a nossa realidade terrena
de todo o fim, de toda a razão, de todo o propósito! O conceito de
«alma», de «espírito», finalmente ainda de «alma imortal», inventou-
se para desprezar o corpo, para o tornar doente – «santo» –, para se
deparar com uma horrível incúria em todas as coisas que na vida merecem
seriedade, as questões de alimentação, habitação, dieta espiritual,
cuidado com os doentes, higiene, tempo! Em vez da saúde, a «salvação
da alma» – quer dizer, uma folie circulaire entre as convulsões da
penitência e a histeria da redenção! O conceito de «pecado» foi inventado,
juntamente com o instrumento complementar de tortura, a noção
de «vontade livre», para extraviar os instintos, para transformar em segunda
natureza a desconfiança para com os instintos! No conceito de
«desinteresse», de «renúncia a si mesmo», encontra-se o genuíno sinal
de décadence;o engodo pelo maléfico, a incapacidade de já não
encontrar a sua utilidade, a autodestruição, tornaram-se em geral qualidades
distintivas, o «dever», a «santidade», o «divino» no homem!
Por fim – e é o mais terrível – no conceito de homem bom, toma-se o
partido de tudo o que é fraco, doente, falhado, do que em si mesmo é
passivo, de tudo o que deve perecer – a lei da selecção é contrariada, e
faz-se um ideal a partir da oposição ao homem altivo e bem sucedido,
ao homem que diz sim, ao homem que garante e está certo do futuro –
este torna-se agora o mau... E em tudo isto se acreditou como moral!
Écrasez l’infâme!"
Friedrich Nietzsche
o único mundo que existe – para destituir a nossa realidade terrena
de todo o fim, de toda a razão, de todo o propósito! O conceito de
«alma», de «espírito», finalmente ainda de «alma imortal», inventou-
se para desprezar o corpo, para o tornar doente – «santo» –, para se
deparar com uma horrível incúria em todas as coisas que na vida merecem
seriedade, as questões de alimentação, habitação, dieta espiritual,
cuidado com os doentes, higiene, tempo! Em vez da saúde, a «salvação
da alma» – quer dizer, uma folie circulaire entre as convulsões da
penitência e a histeria da redenção! O conceito de «pecado» foi inventado,
juntamente com o instrumento complementar de tortura, a noção
de «vontade livre», para extraviar os instintos, para transformar em segunda
natureza a desconfiança para com os instintos! No conceito de
«desinteresse», de «renúncia a si mesmo», encontra-se o genuíno sinal
de décadence;o engodo pelo maléfico, a incapacidade de já não
encontrar a sua utilidade, a autodestruição, tornaram-se em geral qualidades
distintivas, o «dever», a «santidade», o «divino» no homem!
Por fim – e é o mais terrível – no conceito de homem bom, toma-se o
partido de tudo o que é fraco, doente, falhado, do que em si mesmo é
passivo, de tudo o que deve perecer – a lei da selecção é contrariada, e
faz-se um ideal a partir da oposição ao homem altivo e bem sucedido,
ao homem que diz sim, ao homem que garante e está certo do futuro –
este torna-se agora o mau... E em tudo isto se acreditou como moral!
Écrasez l’infâme!"
Friedrich Nietzsche
O nada em marcha
dimensão nada é, mas, posto em movimento, este nada engendra a
linha, geradora da superfície, mãe de todos os corpos de três
dimensões. Não somos nada enquanto permanecemos imóveis, mas
nosso movimento deixa um traçado luminoso, mesmo que não
sejamos mais que efêmeras estrelas cadentes. Se concebermos que
tudo não é mais que o nada em marcha, tornamos ativa nossa
inação, sem nos enganarmos sobre nosso próprio valor e nossa
capacidade. Agimos, sem nos debater em pura perda, porque
vamos construir, porque este é o objetivo da vida.
Todavia, após haver sondado a profundidade de nossa
ignorância, como podemos trabalhar em segurança, certos de que
não nos enganaremos em nossa empresa? Ora, a desilusão paralisa:
ela destrói a confiança adquirida pelo Companheiro e a certeza dos
princípios segundo os quais ele trabalha. Perdendo sua fé ativa, ele
abandona seus utensílios para permanecer desamparado entre
aqueles que sucumbem, como ele, na grande prova da decepção.
Em que o desiludido poria sua confiança? Está sem ilusões
mesmo quanto à Maçonaria, instituição que formula os bons
princípios, mas não os aplica mesmo em seu próprio seio. Os
maçons pretendem fazer reinar a harmonia no mundo: ora, eles se
agrupam em organizações que se opõem umas às outras e se
recusam a confraternizar entre elas. As Lojas recrutam mal e são
invadidas por ignorantes vaidosos, incapazes de se iniciar
realmente: também a iniciação é ela fictícia, e a Maçonaria vegeta
como um corpo sem alma do qual o espírito foi retirado.
Tal é, eis, a irreparável catástrofe prevista pelo Ritual: o
Espírito não mais governa. O Arquiteto do Templo está morto, e
ninguém é capaz de substituí-lo. Os Mestres que recebiam suas
instruções estão desamparados. Estão reunidos na Câmara do Meio,
mas avaliam a situação sem saída e se abandonam à dor de não ter à
sua cabeça o sábio Hiram, detentor dos supremos segredos da Arte
de construir."
OSWALD WIRTH
Nem Lúcifer, nem Prometeu: o homem
"Hors les temps de la foi, où l'homme croit trouver dans les choses le dessin d'une destinée toute faite, qui peut éviter ces questions et qui peut donner une autre réponse ? Ou plutôt : la foi, dépouillée de ses illusions, n'est-elle pas cela même, ce mouvement par lequel, nous joignant aux autres et joignant notre présent à notre passé, nous faisons en sorte que tout ait un sens, [331] nous achevons en une parole précise le discours confus du monde ? Les saints du christianisme, les héros des révolutions passées n'ont jamais fait autre chose. Simplement ils essayaient de croire que leur combat était déjà gagné dans le ciel ou dans l'Histoire. Les hommes d'aujourd'hui n'ont pas cette ressource. Le héros des contemporains, ce n'est pas Lucifer, ce n'est pas même Prométhée, c'est l'homme."
Maurice
Merleau-Ponty
Madre Tereza
O dia mais belo: hoje
A coisa mais fácil: errar
O maior obstáculo: o medo
O maior erro: o abandono
A raiz de todos os males: o egoísmo
A distração mais bela: o trabalho
A pior derrota: o desânimo
Os melhores professores: as crianças
A primeira necessidade: comunicar-se
O que traz felicidade: ser útil aos demais
O pior defeito: o mau humor
A pessoa mais perigosa: a mentirosa
O pior sentimento: o rancor
O presente mais belo: o perdão
o mais imprescindível: o lar
A rota mais rápida: o caminho certo
A sensação mais agradável: a paz interior
A maior proteção efetiva: o sorriso
O maior remédio: o otimismo
A maior satisfação: o dever cumprido
A força mais potente do mundo: a fé
As pessoas mais necessárias: os pais
A mais bela de todas as coisas: O AMOR!!!
Madre Tereza de Calcutá
Fonte: https://www.mundodasmensagens.com/mensagens-reflexao/
A coisa mais fácil: errar
O maior obstáculo: o medo
O maior erro: o abandono
A raiz de todos os males: o egoísmo
A distração mais bela: o trabalho
A pior derrota: o desânimo
Os melhores professores: as crianças
A primeira necessidade: comunicar-se
O que traz felicidade: ser útil aos demais
O pior defeito: o mau humor
A pessoa mais perigosa: a mentirosa
O pior sentimento: o rancor
O presente mais belo: o perdão
o mais imprescindível: o lar
A rota mais rápida: o caminho certo
A sensação mais agradável: a paz interior
A maior proteção efetiva: o sorriso
O maior remédio: o otimismo
A maior satisfação: o dever cumprido
A força mais potente do mundo: a fé
As pessoas mais necessárias: os pais
A mais bela de todas as coisas: O AMOR!!!
Madre Tereza de Calcutá
Fonte: https://www.mundodasmensagens.com/mensagens-reflexao/
Então
Se eu pudesse brincar,
e imaginar,
diria que no inferno
a lava deve ferver assim...
Mas to brincando.
Deve ferver assado mesmo.
e imaginar,
diria que no inferno
a lava deve ferver assim...
Mas to brincando.
Deve ferver assado mesmo.
Da água triste
TUMULTO
Tempestade... O desgrenhamento
das ramagens... O choro vão
da água triste, do longo vento,
vem morrer-me no coração.
A água triste cai como um sonho,
sonho velho que se esqueceu...
( Quando virás, ó meu tristonho
Poeta, ó doce troveiro meu!...)
E minha alma, sem luz nem tenda,
passa errante, na noite má,`
à procura de quem me entenda
e de quem me consolará...
Cecília MeirelesFonte: O Pensador
Tempestade... O desgrenhamento
das ramagens... O choro vão
da água triste, do longo vento,
vem morrer-me no coração.
A água triste cai como um sonho,
sonho velho que se esqueceu...
( Quando virás, ó meu tristonho
Poeta, ó doce troveiro meu!...)
E minha alma, sem luz nem tenda,
passa errante, na noite má,`
à procura de quem me entenda
e de quem me consolará...
TREZENA DE SANTO ANTÔNIO
Só faça quando precisar de algo urgente.
Pode guardar pelo tempo que for necessário.
Se você não é católico ou não precisa, não
a destrua, dê a alguém que tenha necessidade de uma graça.
ORAÇÃO
Santo Antônio, que a pena que me aflige se
torne alegria. (Faça o pedido.)
EXPLICAÇÃO
Rezar: 1 Pai Nosso, 3 Ave-Marias e Glória
ao Pai.
Rezar durante 13 (treze) terças-feiras.
Dar um nó na fita cada vez que rezar: um nó
para cada terça-feira.
Cada terça-feira deixar três cópias em uma igreja ou entregar as cópias da trezena para três pessoas, cada uma dessas cópias acompanhada de 30 centímetros de
fita azul.
Alcançada a graça, envie a fita azul para o
seguinte endereço:
Reverendo
Padre da Igreja Nossa Senhora da Lampadosa
Avenidas
Passos, 15
CEP:
20.051-040 ― Rio de Janeiro
O
MILGRE É TÃO GRANDE QUE VOCÊ NÃO CHEGA A DAR O QUINTO NÓ, MESMO ASSIM, TERMINE
A TREZENA.
Imagem: Convento de Santo Antonio do Largo da Carioca - Igreja de Santo Antonio - Azulejo com imagem de Santo Antonio com Jesus no colo. Fonte: Wikipedia Commons.
Santa Teresa de Jesus e o CASTELO INTERIOR
"Este tratado, chamado Castelo interior, escreveu Teresa de
Jesus, freira de nossa Senhora do Carmo, para suas irmãs è filhas, as freiras
Carmelitas Descalças. JHS
1. Poucas coisas, das que me tem mandado a obediência, se
tornaram tão dificultosas para mim como escrever agora coisas de oração;
primeiro, porque me parece que o Senhor não me dá nem espírito nem desejo para
o fazer; depois, por ter a cabeça, há três meses, com um zumbido e fraqueza tão
grande, que, até sobre negócios urgentes, escrevo a custo. Mas, entendendo que
a força da obediência costuma facilitar coisas que parecem impossíveis, a
vontade determina-se a fazê-lo de muito bom grado, ainda que a natureza se
aflija muito; porque o Senhor não me deu tanta virtude, para que o pelejar com
a enfermidade contínua e com muitas e variadas ocupações se possa fazer sem
grande contradição sua. Faça-o Ele, que tem feito outras coisas mais
dificultosas para me fazer mercê, e em cuja misericórdia confio.
2. Creio bem que pouco mais hei-de saber dizer do que já
disse em outras coisas, que me mandaram escrever, antes temo que hão-de ser
quase sempre as mesmas: porque, como os pássaros a quem ensinam a falar, não
sabem mais do que lhes ensinam ou eles ouvem, e isto repetem muitas vezes,
assim sou eu ao pé da letra. Se o Senhor quiser que eu diga algo de novo, Sua
Majestade o fará ou será servido trazer-me à memória o que de outras vezes
disse, e que até com isto me contentaria, por tê-la tão má que folgaria em
atinar com algumas coisas, que dizem que estavam bem ditas, caso se tivessem
perdido. Se nem mesmo isso me der o Senhor, com me cansar e acrescentar o mal
de cabeça, por obediência, ficarei com lucro, embora do que disser, não se tire
nenhum proveito?
3. E assim começo a cumpri-la hoje, dia da Santíssima
Trindade, ano de 1577, neste mosteiro de S. José do Carmo em Toledo, onde estou
presentemente, sujeitando-me em tudo o que disser ao parecer de quem mo manda
escrever, que são pessoas de grandes letras. Se alguma coisa disser que não vá
conforme ao que ensina a Santa Igreja Católica Romana, será por ignorância e
não por malícia. Isto se pode ter por certo e que sempre estou e estarei
sujeita, por bondade de Deus, e o tenho estado, à Santa Igreja. Seja para
sempre bendito e glorificado! Amen!
4. Disse-me quem me mandou escrever, que estas freiras
destes mosteiros de Nossa Senhora do Carmo têm necessidade de que alguém lhes
declare algumas dúvidas de oração, e lhe parecia que melhor entendem as
mulheres a linguagem umas das outras. Com o amor que me têm, lhes faria mais ao
caso o que eu lhes dissesse e, por esta razão, entendia ter alguma importância
se se acertasse a dizer alguma coisa e, por isso, irei falando com elas naquilo
que escrever, porque parece desatino pensar que pode fazer ao caso a outras
pessoas. Grande mercê me fará o Senhor, se a alguma delas aproveitar para O
louvar um poucochinho mais. Bem sabe Sua Majestade que eu não pretendo outra
coisa; e é bem claro que, quando atinar a dizer alguma coisa, elas entenderão
que não é meu, pois não há razão para isso, nem tão-pouco tivera eu entendimento
e habilidade para coisas semelhantes; se o Senhor, por Sua misericórdia não mos
desse."
Nota: JHS.
Sigla que representa as iniciais de Jesus Salvador dos Homens. Aparece em
relevo nas hóstias e representa Jesus para os cristãos.
Fonte: SANTA TERESA DE JESUS. Livro das moradas ou castelo interior. Disponível em:
Imagem: Santa Teresa de Ávila. Fonte: Wikipedia Commons
A Velhice do Padre Eterno
CIRCULAR
(Fragmento)
Deus & Filho. Bazar da fé. Venda forçada.
Pela barca de Pedro, a Judas consignada,
Chega um rico sortido em modas da estação.
Vêr para crêr! Surpreza! Attenção, occasião
Unica! aproveitai, comprai! Pechincha certa!
Ao bazar do Calvario! Ao Nazareno! Alerta,
Christãos! É o desfazer da feira. Ultimo dia!
Toda a casta de objecto ou de quinquilharia
Que esteja em relação com negocios de egreja.
Vellas especiaes para quando troveja,
Aplacando de prompto a colera divina.
Sem cheiro e sem mistura alguma de stearina.
Santa Barbara, a quem a fé christã se roja,
Quando atrôa, não gasta as vellas doutra loja,
Nem outras recommenda o concilio de Trento.
Em pacotes de seis. Por junto abatimento.
Agua de Lourdes, fresca. Em pipas, ao quartilho
E em garrafa. Exigir a marca;Deus & Filho;
[104] Na etiqueta, e na rolha, a fogo;Providencia;
Genuina só a ha á venda nesta agencia.
Dez annos de successo e mil milhões de curas
Efficaz contra a caspa e contra as mordeduras
De cobra cascavel ou cão damnado ou pulga
Ou percevejo. Faz, Tartufo assim o julga,
Nascer ao mesmo tempo o apetite e o cabello,
Bôa no hemorroidal e util no serampello.
Reumatismos, terçãs e outras molestias varias
Cura-as num prompo. Expulsa as bichas solitarias
E expulsa o Demo. Purga: os ventres desentupe-os.
Sem colicas, com tres ou quatro semicupios.
Em cegos de nascença e tisicos de peito
Isso então é instantaneo, é certo o seu effeito.
Uma perna amputada unta-se, e em dois instantes
Torna a crescer e fica inda maior que dantes.
Em leicenços não falha. Em dôr de dentes, isso
É bebel-a e ficar sem dôr. Não ha feitiço
Que resista. Uma vez uma morta tomou-a,
Espirrou e ficou inteiramente boa!
Prevenimos no entanto o publico defuncto
Que casos destes ha uns trinta e dois por junto
Apenas. Endireita a espinhela cahida,
Extrae callos, reduz fleimões, prolonga a vida,
Marca a roupa, e sem damno algum e sem fedor
Tórna o cabello e a barba á primitiva côr.
Reliquias. Sortimento a capricho. Em ossadas
Dos apostolos, hoje as mais acreditadas
No mercado, chegou variedade infinita,
Cabeças de S. João, só vendo se acredita,
[105] Onze mil! onze mil, e damol-as sem ganho!
Os preços é segundo o feitio e o tamanho.
(E convem declarar e advertir desde já
Que ossos de imitação não se encontra por cá.
Atestados legaes e autenticos o provam.)
Ha um monumental e rico S. Christovam,
Oito metros de largo e uns oitenta de altura,
Que, como não tem tido até hoje procura,
Decidimos vender, para liquidação,
A retalho. É de graça: o kilo a meio tostão.
O publico achará sempre neste bazar
De qualquer santo, ainda o mais particular,
Um esqueleto ou dois continuamente á venda.
Desejando porção, fazem-se de encommenda.
Desconto extraordinario em transações por grosso.
Garante-se o fabrico e a solidez do osso
Que empregamos. A todo o esqueleto montado
Nesta casa vai junto, e em forma, um atestado
Escripto sobre a pel e pela propria mão
Do proprio santo, a quem a carcassa em questão
Pertencera, e que diz:;Eu juro á fè de Deus
Que estes ossos, tal qual estão, eram os meus.;
Aviso: é bom comprar peças sobrecellentes:
Pelo menos um sacro, um nariz e alguns dentes.
Encontram-se tambem avulso qualquer dellas
Coccixs, peroneus, omoplatas, costellas.
Tibias, tarsos, enfim tudo que uma alma pia
Possa achar num manual christão de osteologia.
Em dedos do Destino ha um soberbo exemplar:
É o mesmo que escreveu outrora a Balthasar
[106] No salão do festim a tragica sentença,
Dá-se por dez tostões essa caneta immensa
Do Destino ha tambem o olho verdadeiro,
Em vidro ou em cristal, por duzia ou por milheiro,
Negros, verdes, azues, obra muito barata,
Engastado em oiro, em nickel ou em lata.
E hoje a grande moda, e são dum bello effeito
Para botões de punho e alfinetes de peito.
Ha emfim mais de dez milhões de toneladas,
De craneos sem valor, e de antigas ossadas,
Que o caruncho roeu e converteu em cisco,
Como são vinte mil braços de S. Francisco,
Et cetra... Esse calcareo, (inutil nesta casa,)
Vende-se para esterco a trez vintens a raza.
Vera-cruz. Qualidade esplendida, extra-fina
Authentica; a melhor que vem da Palestina.
Em pó, em serradura, em lascas, aos boccados,
E posta em obra;desde a cama de casados,
Desde o piano dErard ou da credencia até
Ao baculo do bispo e ao steeck do crevé.
Trabalhada a primor em mil objectos varios:
Em facas de cortar papel ou em rosarios,
Em imagens do papa ou em boquilhas, em
Cabides, castiçaes, prezepes de Bethlem,
Bandejas para chá, agnus-Dei, cruxifixos,
Lavatorios, etc. Ao rabais. Preços fixos.
Nos nossos armazens com serras a vapor
Vendemol-a igualmente, a cruz do Redemptor,
Em ripas; em pranchões e em traves collossaes
[107]Para marcenaria e construcções navaes.
..................................................................
..................................................................
Como hoje o negocio está muito bicudo,
Trespassa-se o armazem do Calvario com tudo
Que tem dentro. Escrever para o nosso bazar,
Largo dos Intrujões, 5, 1.º andar.
GUERRA JUNQUEIRO, A Velhice do Padre Eterno, Editora
Livraria Minerva, Lisboa.
Imagem: Cartão postal, 1900. Arquivo municipal da cidade do Porto. Fonte: Wikipedia Commons.
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