Para pensar o Natal

“Nome de lugar onde alguém já nasceu, devia de estar sagrado. Lá como quem diz: então alguém havia de renegar o nome de Belém – de Nosso-Senhor-Jesus-Cristo no presépio, com Nossa Senhora e São José?! Precisava de se ter mais travação. Senhor sabe: Deus é definitivamente; o demo é o contrário Dele...”

GUIMARÃES ROSA, João. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994, p. 52

Para o governo da vida

“Entre o homem, com a sua razão, e os animais, com o seu instinto, quem, afinal, estará mais bem dotado para o governo da vida? Se os cães tivessem inventado um deus, brigariam por diferenças de opinião quanto ao no me a dar-lhe, Perdigueiro fosse, ou Lobo-d’Alsácia? E, no caso de estarem de acordo quanto ao apelativo, anda riam, gerações após gerações, a morder-se mutuamente por causa da forma das orelhas ou do tufado da cauda do seu canino deus?”

SARAMAGO, José. In nomine Dei. Alfragide: Editorial Caminho, 1993.


Templos


 Cúpula da catedral metropolitana de Porto Alegre.

Templos





Igreja que fica na Praça Central de Tapes, RS. Talvez duas ou três horas, não mais que isso, passeando pela cidade. No descritor: sossego. Na impressão: capricho, mas não intencional. As linhas se harmonizam por si. Um ar de nostalgia. O anoitecer inspiraria notas num violão sem pretensões a nenhuma plateia. Então o impacto: uma lagoa, um final de tarde de céu aquarelado, barcos, e tudo acaba quase em cartão postal.
Moral da história: é indo não sei onde que se encontra não sei o quê.

De antigamente

 

Meus avós tinham uma pasta grande, cheia de papeis e outros mistérios. Havia algumas gravuras ali. Uma das que conservo é esta, do clássico anjo da guarda que protege um menino e uma menina que atravessam uma ponte insegura, cruzando águas revoltas que se confundem com as vestes do anjo. A menina protege o menino, e tenho a impressão de que cuida dele e procura acalmá-lo. Um chavão? Sem dúvida. Esteriótipo? Sim. Diria que é kitsch mesmo, mas nem por isso deixa de ser um clássico do imaginário.

A Morte e as Águas

“Tudo o que vive surge das águas, como o sol, e para lá retorna ao anoitecer. Nascido das fontes dos rios e dos mares, o homem, após a morte, alcança as margens do Estige para realizar a travessia noturna. Seu desejo é que as águas escuras da morte se tornem águas de vida, que a morte e suas garras frias sejam útero, assim como o mar, quando engole o sol, confortando-o em sua profundeza.”

JUNG, Carl Gustav Jung, Wandlungen und Symbole der Libido, 1912. Trad. it. La libido: simboli e trasformazioni, Torino: Boringhieri, 1965, in: MORIN, Edgar. L’UOMO E LA MORTE. Trad. de Riccardo Mazzeo .Trento: Edizioni Centro Studi,  2014, p. 128.


Faz de conta

Será que só depois que a asa negra da morte passa é que o arco-íris aparece? Mesmo torto, mesmo com as cores desordenadas e confusas. Mesmo assim, não faz mal. Porque é só faz de conta. 
 

Swedenborg por Morel

“Para mim, é suficiente, senhores, deixar-vos entrever minha profunda convicção sobre o perigo do iluminismo e do amor ao maravilhoso inerente à nossa natureza, e sobre as consequências não menos perigosas dessa tendência, por assim dizer, instintiva, do espírito humano, que chega a dar, aos fatos mais justificáveis pela explicação científica das coisas da vida, um cunho sobrenatural.

Eu vos falei inicialmente da América, que parece ser hoje o país preferido de todas as extravagâncias do espírito humano. É lá que parece se concentrar, como núcleo de predileção, o amor ao sobrenaturalismo. Disso sabemos alguma coisa pela epidemia que, a partir desse país, se difundiu para o mundo inteiro e que, entre muitos indivíduos, suscitou, na esfera do sistema nervoso, manifestações próprias a aterrorizar nossos novos Prometeu. Ainda uma vez, a razão humana nada tem a ganhar com esse modo de interpretar os fatos e de buscar a origem deles. A verdade não nos entrega seus segredos nem pela violência nem pela impostura. Se o mundo e as maravilhas que ele encerra são entregues às nossas investigações, nós não chegaremos a compreender tantos fenômenos, a interpretar as leis que o próprio Deus lhes impõe, senão que sob a condição de proceder com calma, maturidade e reflexão. Os progressos do espírito humano dependem da observação metódica dos fatos de ordem científica. Qualquer outro proceder nos expõe corpo e alma à influências da impostura, e , em lugar da verdade que eleva o espírito, que o fecunda e vivifica, não nos entrega senão fantasmas que fazem retroagir a razão e alucinam as inteligências.”

MOREL, Bénédict Augustin. SWEDENBORG : SA VIE, SES ÉCRITS, LEUR INFLUENCE SUR SON SIÈCLE, ou COUP D OEIL SUR LE DÉLIRE RELIGIEUX. Paris : Imprimerie de Alfred Péron, 1859.

Clarice, naturalmente

"Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero, serei um dado marcado, e o jogo de minha vida maior não se fará. Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe."

Clarice Lispector, no livro “Felicidade clandestina”. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. Fonte: Revista Prosa e Verso e Arte 

Pensamentos de domingo

Pensando em novembro que entra com mortos, com novos mortos, aliás, certamente precisando se adaptar àquilo que alguns insistem em chamar de outra vida. 

Cemitérios

Cemitérios têm uma beleza implícita, inerente a seu contexto. Eles refletem as cidades nas quais se encontram, senão uma parte delas, quando há mais de um. Elaboram-se segundo uma tradição de ordem geral, cuja regra maior é a chamada arte funerária, e também segundo uma concepção local, que corresponde, mais ou menos, a um modelo de moradia elaborada para os que partiram. Passeando por uma cemitério, vemos como foram arrumadas as lápides dos mortos, tarefa da qual se incumbem, de regra, os parentes. Enfeites, flores, coloridos inesperados, por vezes surpresas, como esta da foto, onde a cruz foi enfeitada por obra de insetos que ali construíram sua morada. As palavras se repetem, e reiteram saudades...
 

Um quarto de hora deante da Santissima Virgem

Esse impresso de 1922, Rio de Janeiro, 12 cm x 7,5 cm, dá sentido à oração conhecida como Ave Maria, esclarecendo e explicando a saudação, a graça, o estar com Deus, o abençoado fruto esperado que a torna mãe do próprio Deus, conferindo-lhe a prerrogativa de orar por nós (os pecadores) neste instante (diante dos perigos) como diante da morte.
PDF disponível no meu Scribd, para quem quiser baixar, naturalmente.

Quem foi São Francisco?


Quem foi São Francisco afinal? Historicamente falando, talvez ele não devesse ser identificado à figura do jovem questionador, afinado com a modernidade, com a ecologia, com a globalização, integrando sistemas e redes. A saber se tais questionamentos podem ser formulados com segurança. Nesse diapasão, o livro de Guido Vignelli, publicado em Verona, 2009, pela Fede & Cultura e intitulado SAN FRANCISCO ANTIMODERNO, DIFESA DEL SERAFICO DELLE FALSICAZIONI PROGRESSISTE, com belíssima introdução de Fabio Bernabei: San Francesco: un esempio per gli Italiani di oggi.

Bernabei nos introduz a obra, apresentando-nos um Francisco que teria conseguido harmonizar três características próprias ao espírito italiano: a mística, o amor e a arte combinadas ao senso prático tipicamente romano. Nele encontraríamos equilíbrio espiritual, capacidade de harmonizar realidade com espírito de sacrifício, de doar e de doar-se, espírito artístico, intuição e fantasia. Estariam aí características tipicamente italianas, de sorte que haveria boas razões para que a Itália se tornasse justamente essa terra de santos, sábios, artistas, heróis, exploradores e, — por obra de Deus, afirma—, também a sede do Papado, cumprindo uma missão civilizadora dos povos, inspiradora do Império Cristão.

Após cuidadosa análise da vida desse personagem real, que influi até hoje na Igreja e no mundo, Vignelli, o autor, nos apresenta o movimento franciscano como capaz de mostrar que qualquer um de nós pode almejar à perfeição evangélica, tornar-se religioso, fazendo do coração uma cela, da casa uma ermida, do trabalho um exercício penitencial, do dever uma prática ascética, e tudo sob a máxima: “Pregar em silêncio, edificar servindo, converter obedecendo”. 

Ao homem moderno e em crise, São Francisco representaria um contraponto pelo exemplo de uma vida não independente, mas, ao contrário, completamente dependente de Deus, não livre, mas sob a filial e estrita obediência à Igreja, não arrogante, mas profundamente respeitosa à sociedade e inteiramente dedicada ao serviço do outro. 

De notar, — e reside justamente nisso o questionamento a que o livro se propõe —, que não haveria na vida de Francisco nenhum espaço para um pretenso laicismo comumente atribuído ao santo, nem tampouco espaço para uma santificação do cotidiano, esta última surgida como inovação típica do século XX. Ao contrário, Francisco é resgatado como exemplo de dependência (de Deus), de obediência (à Igreja) e de sacrifício (pelo outro), gestos que não deveriam refletir nem laicidade nem o mundanismo de uma sociedade de consumo, ecumênica e relativista.

Contribuição


 Amigos, filhos da viúva, contribuindo para com o enriquecimento da biblioteca, nada modesta, aliás, dos Mestres do Imaginário. Um tríplice, então.

Santa Teresinha do Menino Jesus

Santa Teresinha do Menino Jesus, também chamada Teresa de Lisieux, foi Marie-Françoise-Thérèse Martin. Nascida em Alençon, França, em 02/01/1873, tornada freira com apenas 15 anos, tinha 24 quando morreu em 30/09/1897, em Lisieux, França, de tuberculose. Foi o Papa Pio X que a canonizou em 17/05/1925, o que a torna uma santa do século XX, pode-se dizer, em termos, moderna. É festejada no dia 1º de outubro, e as rosas são as flores que melhor a representam. Teresa documentou sua experiência religiosa. Deixou manuscritos autobiográficos, poemas, orações e outras peças de caráter religioso, que foram publicados, contribuindo assim para que tornasse popular. Lê-se na Wikipédia que o papa, hoje Santo, João Paulo II, declarou-a Doutora da Igreja: a terceira, e mais jovem mulher, a receber tal título à época, 19/10/1997. A imagem acima é de uma pintura que existe na sacristia da Igreja Santa Teresinha, em Porto Alegre. A igreja em questão é decorada com magníficos afrescos de Aldo Locatelli, que ilustram episódios da vida da santa.

 

Reflexos

Virtualmente. 
E as lembranças se operam em vai e vem. 
Uma fração de segundo capturada em pura luz. Nasce um registro. 
O resto? O resto depende apenas de quem possa atribuir significados ao que passou.
Depois tudo sossega, quando se volta para este aqui e agora.

Ventos de doutrina

"Quantos ventos de doutrina conhecemos nestes últimos decênios, quantas correntes ideológicas, quantas modas do pensamento... A pequena barca do pensamento de muitos cristãos foi muitas vezes agitada por estas ondas lançada de um extremo ao outro: do marxismo ao liberalismo, até à libertinagem, ao colectivismo radical; do ateísmo a um vago misticismo religioso; do agnosticismo ao sincretismo e por aí adiante. Cada dia surgem novas seitas e realiza-se quanto diz São Paulo acerca do engano dos homens, da astúcia que tende a levar ao erro (cf. Ef 4, 14). Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, muitas vezes é classificado como fundamentalismo. Enquanto o relativismo, isto é, deixar-se levar "aqui e além por qualquer vento de doutrina", aparece como a única atitude à altura dos tempos hodiernos. Vai-se constituindo uma ditadura do relativismo que nada reconhece como definitivo e que deixa como última medida apenas o próprio eu e as suas vontades."

Cardeal Joseph Ratzinger, Homilia “pro eligendo romano pontifice”, 18 de abril de 2005. Disponível em: http://www.vatican.va/gpII/documents/homily-pro-eligendo-pontifice_20050418_po.html. Acesso em: 07/07/2020.

Santos quebrados

Era hábito, e talvez ainda seja, depositar em uma igreja as imagens quebradas de santos. Estes foram fotografados por Rogério Centofanti, quando explorava capelas e igrejas abandonadas no interior de São Paulo.

A Kabbala


“Uma doutrina que apresenta mais de um ponto de semelhança com a de Platão e a de Espinosa; que, por sua forma, se eleva às vezes até o tom majestoso da poesia religiosa; que nasceu na mesma terra e quase ao mesmo tempo em que o cristianismo; que, ao longo de mais de doze séculos, sem outra prova além da hipótese de uma antiga tradição, sem outro motivo aparente que não o desejo de penetrar mais intimamente no sentido dos livros santos, desenvolveu-se e propagou-se à sombra do mais profundo mistério: eis o que se encontra, depois de purificada de todos os amálgamas, nos monumentos originais e nos mais antigos fragmentos da Kabbala.” (Frank, 1843, p. 1)

 “Ainda que se encontre na Kabbala um sistema bem completo sobre as coisas e a ordem moral e espiritual, não se pode, todavia, considerá-la nem como uma filosofia, nem como uma religião: quero dizer que ela não se apoia, ao menos em aparência, nem na razão, nem na inspiração ou na autoridade. Ela não é também, como a maior parte dos sistemas da Idade Média, o fruto de uma aliança entre esses dois poderes intelectuais. Essencialmente diferente da crença religiosa, sob o império e, pode-se dizer, sob a proteção da qual nasceu, introduziu-se nos espíritos como que por surpresa, graças a uma forma e a processos que poderiam enfraquecer o interesse da qual é digna, que nem sempre permitiriam convencer da importância que acreditamos ter o direito de lhe atribuir, se, antes de fazê-la conhecer em seus diversos elementos, e, antes de abordar qualquer das questões que a ela se relacionam, indique-se aí precisamente o lugar que ela ocupa entre as obras do pensamento, o lugar que ela deve ter entre as crenças religiosas e os sistemas filosóficos, e, enfim, as necessidades ou as leis que podem explicar a singularidade de seus meios de desenvolvimento.” (Frank, 1843, pp. 38-39)

Frank, A. (1843). La Kabbala ou la philosophia religieuse des Hébreux. Paris: Hachette.

O RENASCIMENTO DA MAGIA


Gustave Le Bon - Wikimedia

   Não se pode deixar de insistir sobre um ponto importante: as últimas décadas do século XIX e as primeiras do XX foram marcantes em termos de rupturas. Sabe-se bem disso. Contudo, quando vasculhamos a cotidianidade desse outro tempo, especialmente a partir dos discursos de então, é possível descobrir as tensões e as disputas que tinham lugar mesmo entre os protagonistas do saber, ou seja, os próprios cientistas. Exemplo disso nos vem da parte de Gustave Le Bon, particularmente em interessante artigo que apareceu em 1910 na La Revue Scientifique, no qual abordou o que considerava como um verdadeiro renascimento da magia. O tema merece ser exposto aqui porque ilustra muito bem o posicionamento de Gustave Le Bon no sentido de que não se deveria jamais subestimar a importância que a sugestão pode assumir independentemente da condição social e intelectual do indivíduo teoricamente sugestionado.
Para Le Bon (1910, p. 492) a sede de conhecer seu destino e de obter ajuda de forças sobrenaturais seria uma característica inerente ao homem. E tais desejos estariam na origem das diversas formas de magia, arte, segundo ele, praticada por todos os povos em todas as etapas de sua história. Necromancia, astrologia, mesmo a adivinhação feita por oráculos consistiriam em práticas análogas àquelas empregadas pelos chamados médiuns. Em Roma, por exemplo, a magia era uma religião de Estado, com sacerdotes encarregados de interpretar e comentar fenômenos naturais, especialmente à véspera de grandes batalhas. Esse colégio dos augúrios, aliás, persistiu mesmo até o século IV de nossa era, quando Teodósio lhe pôs fim sob a influência crescente do Cristianismo. A confiança geral nesses vaticínios teve lugar porque eles emanariam de supostos seres, considerados superiores, análogos aos espíritos dos modernos espíritas, e só mesmo o triunfo da nova fé teria feito calar os oráculos, decretando o desaparecimento da magia pagã. Esta, todavia, renascera na Idade Média com o nome de feitiçaria. O papel e o poder dessa feitiçaria, ― observa Le Bon (id. ibid.) ― poderiam ser bem aquilatados graças aos milhares de feiticeiras que, mesmo queimadas, reapareceriam sempre, domadas mais pelo tempo do que pelos suplícios que lhes foram infligidos pela Igreja. Como regra, a feitiçaria não dispensava a assistência do diabo, e disso teriam dado prova inumeráveis testemunhos e afirmações obstinadas que, mesmo ao preço da própria vida, incontestavelmente teriam provado a existência dos demônios, frequentes nos Sabats. Houve quem jurasse ter voado pelos ares, cavalgando vassouras, assim como houve quem tivesse relações sexuais com demônios. Tais confissões, por sua vez, dariam prova manifesta não das ações que descrevem, ― salienta Le Bon (id. ibid.) ― mas das ilusões criadas pelas sugestões individuais ou coletivas.
Nessa linha de argumentos, Le Bon (1910a, p. 492) explica que a modernidade, com seus métodos científicos, deveria ter colocado fim à crença na magia, despojando de prestígio os feiticeiros, desacreditados e relegados ao fundo de pequenas cidades. Contudo, a esperança de sobreviver ao túmulo seria, nos homens, um sentimento vivo demais para morrer, e a antiga magia deveria, uma vez mais, renascer, mudando de nome sem se modificar muito, reaparecendo nas práticas ocultistas e no espiritismo, este com seus médiuns inspirados no vaticínio dos espíritos. A evocação dos mortos também trouxera consigo as materializações. Por um bom tempo, a nova crença teria permanecido desacreditada e desdenhada pelos chamados sábios, todavia, a partir da última década no século XIX, eminentes personalidades tornaram-se defensoras convictas disso que, para Le Bon (1910a, passim), assume contornos de uma nova forma de magia. Ele nos dá exemplos concretos. Célebres antropólogos como Lombroso, químicos ilustres como Crookes, fisiologistas como Richet, físicos como d’Arsonval, filósofos como Boutroux teriam falado todos de suas experiências sobrenaturais. Todavia, a par desses, outros sábios tão ilustres quanto rejeitaram tais observações, consideradas como fruto de sugestões ou alucinações e indicativas de um retorno àquilo que seriam as mais baixas formas de feitiçaria e de superstição. Diante de tais contradições, a perplexidade nos levaria a indagar se seria verdadeiramente possível que observadores hábeis pudessem se enganar tanto. Além disso, restaria ainda saber por que tais fatos pretensamente certos não foram constatados por outros observadores operando em idênticas condições. Le Bon (id. ibid.), como resposta, afirma que durante muito tempo resistiu em estudar os fenômenos espíritas, julgando inútil perder seu tempo com o que considera pesquisas imprecisas e asserções contraditórias. Contudo, quando os espíritas pretenderam encontrar nas pesquisas que o próprio Le Bon fizera, ― pesquisas estas sobre a desmaterialização e sobre a existência da energia intra-atômica ―, uma prova de apoio à sua doutrina, sua atenção fora atraída para esse campo. Diante de tantas contradições, a perplexidade levaria a indagar se é verdadeiramente possível que observadores hábeis possam se enganar tanto, e por que tais fatos ― pretensamente certos ― não foram constatados por outros observadores, operando em idênticas condições.
Uma das observações mais pertinentes que faz consiste em afirmar que é um erro generalizado imaginar que um sábio, por importante que seja em sua especialidade, esteja por isso mesmo apto à observação de fatos estranhos à sua especialidade, notadamente quando ilusões ou fraudes desempenhassem aí um papel preponderante.  Ocorre que justamente os sábios seriam mais fáceis de enganar, porque estariam já habituados a crer no testemunho de seus sentidos complementados pelos instrumentos. Nesse sentido, deveríamos nos persuadir de que não serão os sábios que poderão constatar de maneira eficaz os chamados fenômenos espíritas. Observadores competentes para tanto seriam aqueles que estivessem habituados a criar ilusões, ou seja, os prestidigitadores, justamente aqueles que despertam profunda desconfiança em todos os que temem a perda de suas ilusões. O professor Binet, incluive, teria se oferecido para levar, gratuitamente, até o Instituto de Psicologia, hábeis prestidigitadores. Todavia, feita tal proposta, ele não teria mais sido convocado àquela instituição, fato que o levou a escrever a Gustave Le Bon (id. ibid.). D’Arsonval, a propósito disso, em uma entrevista, teria dito que via como útil a presença de prestidigitadores, os quais, por vez, não teriam respondido aos convites que lhes teriam sido endereçados. Le Bon (id. ibid.), contudo, questionou o sábio, opondo-lhe não só a declaração de Binet como ainda o trecho de uma carta escrita pelo Senhor Raynaly, vice-presidente da câmara sindical da prestidigitação, que diz: 

Permita-me explicar-vos que o Senhor D’Arsonval comete um erro quando diz que os prestidigitadores não se preocuparam em assistir as sessões de espiritismo quando tínhamos por isso o mais ardente desejo. Foram os espíritas que não desejaram nossa presença. Isso parece bastante significativo (Le Bon, 1910a p. 433).

Com efeito — escreve Le Bon (1910a, p. 433) — muito significativo e inteiramente lamentável que o Instituto de Psicologia tenha dado prova de tão manifesta má vontade à vista dos prestidigitadores, indagando das razões que haveria para a persistente recusa da presença de observadores capazes de descobrir fraudes. Nesse sentido, os ingleses teriam se mostrado mais judiciosos, quando o Senhor Masqueline, um prestidigitador, teria descoberto a fraude de um médium nas memoráveis sessões da Society of Phisical Researches. Depois de analisar mais detidamente aspectos relacionados ao espiritismo e ao ocultismo, tais como o magnetismo animal, telepatia, mesas dançantes, médiuns e personalidades inconscientes, levitação e deslocamento de objetos sem contato, Le Bon (id. ibid.) chega a algumas interessantes conclusões: a imensa maioria dos fatos expostos à luz do ocultismo ou do espiritismo seria produto de ilusões. Só um pequeno número deles daria lugar a dúvidas, no caso, o deslocamento de objetos que, todavia, jamais teria sido rigorosamente demonstrado. A propagação das crenças religiosas e a facilidade com que homens eminentes em todos os tempos admitiram superstições como realidades mais tarde julgadas como muito infantis se evidenciaria, contudo. Se aproximássemos crenças outrora universais à vista daquelas que hoje impressionam ilustres sábios, tais como a materialização de fantasmas, a evocação de mortos e outras, poder-se-ia bem formular uma importante lei: 

Quando, por contágio mental, ou por um motivo qualquer, uma crença penetra um pouco em certas regiões do entendimento, ela aí germina muito depressa e acaba por invadi-lo inteiramente fixando-se aí tão solidamente que raciocínio algum, experiência alguma consegue abalar. Ela fica então fora do alcance da lógica. Apenas o tempo poderá lentamente desgastá-la (Le Bon, 1910a, p. 434).

Em termos de credulidade, o sábio em nada é superior ao ignorante, constatação que se evidenciaria no estudo dos fenômenos espíritas. A credulidade ilimitada seria uma doença mental, e Le Bon (1910a, p. 434) nos assegura que ela pode nos atingir a todos tão logo saiamos do campo da observação científica para abordarmos o do maravilhoso. Isso explicaria o fato de vermos tantos e tão ilustres sábios professando crenças pueris idênticas àquelas daqueles que ele designa como selvagens iletrados. E exemplifica. Referindo-se a uma revista dirigida por um célebre professor de medicina de Paris, Le Bon (id. ibid.) descreve que os leitores ali puderam encontrar coisas tais como (1) a história de um médium que movia pêndulos a distância, (2) desenhos de espíritos desencarnados, (3) uma dissertação sobre fadas que habitam florestas,  (4) a história de quatro fantasmas que entoavam a Marselhesa em voz alta à luz da lua, etc. Não obstante as conclusões que tem por incontestáveis acerca de seu estudo, Le Bon (id. ibid.) alerta para um fato importante, qual seja, o de que as crenças corresponderiam a necessidades indestrutíveis que seriam, por isso mesmo, importantes, necessárias mesmo. A ciência proíbe justamente a abordagem do desconhecido, quando seria justamente aí que a alma humana depositaria os seus ideais e as suas esperanças. As crenças teriam consolado gerações de homens, iluminando suas vidas; já a ciência, um pouco intolerante outrora, seria levada a respeitar cada vez mais as coisas estranhas ao seu domínio, que correspondem a necessidades que ela não pode satisfazer. Ciência e crença — afirma — razão e sentimento pertenceriam a domínios independentes não interpenetráveis que não falariam a mesma linguagem. O homem, embora possa afrontar muitos perigos e tolerar muitos males, não poderia viver sem esperança.

Fonte: Le Bon, G. (1910). La renaissance de la magie. Revue Scientifique, a. 48. Paris: Bureau de la Revue Scientifique et Littéraire et de la Revue Scientifique, pp. 391-397; 426-435.

Mundo real, mundo ilusório

“Pretendo dar ao conjunto de ideias que vou expor aqui uma forma acessível a todos, na esperança de que estas ideias poderão servir de elementos construtivos e preparar o consciente das criaturas, meus semelhantes, para a edificação de um novo mundo ― mundo real, para mim, e susceptível de ser percebido como tal, sem a menor sombra de dúvida, para todo pensar humano ― em lugar desse mundo ilusório que nossos contemporâneos representam para si. Com efeito, o pensamento de um homem contemporâneo, qualquer que seja seu nível intelectual, não toma consciência do mundo senão que a partir de dados que desencadeiam nela toda sorte de impulsos fantásticos. Tais impulsos, modificando a cada instante o tempo das associações que se desenvolvem nele sem cessar, desarmonizam completamente o conjunto de seu funcionamento. Eu diria mesmo que todo homem capaz de se isolar das influências da vida ordinária, e de refletir de modo saudável, deveria ficar horrorizado pelas consequências dessa desarmonia, que chega mesmo a comprometer a duração de sua própria existência.”
GURDJEIFF, Georges Ivanovich. Rencontres avec hommes remarquables. Paris: Julliard, 1960, p. 21-22.

Lombroso e o espiritismo

“Em questões psíquicas, estamos muito longe de ter atingido a certeza científica. Mas a hipótese espírita parece-me como um continente em parte submerso no oceano, onde só são visíveis a distância as grandes ilhas que ficam acima do nível geral, e que apenas a visão do cientista pode reunir em um imenso e compacto corpo de terra, enquanto a multidão rasa ri da aparentemente audaciosa hipótese do geógrafo.” Cesare Lombroso, Turim, 29 de outubro de 1908. 

Este parágrafo encerra a introdução de um dos trabalhos que Lombroso nos deixou por conta da simpatia com que acolheu a hipótese espírita, construída sobre fenômenos que ganhavam então um novo olhar. Inovador e sempre aberto a novas fórmulas, Lombroso não poderia ficar indiferente ao acontecia. Outros, como Gustave Le Bon, por exemplo, foram bem mais críticos, de sorte que o resultado foi a polemização do tema que, aliás, até hoje se mantém.

Fonte: Lombroso, C. (1908). After death—what? Spiritistic phenomena and their interpretation. Boston: Small, Maynard & Company Publishers.

Biblioteca dos Mestres do Imaginário

Verbete OTIMISMO, do Dicionário infernal, ou repertório universal de seres, personagens, livros, fatos e coisas relativas à magia, ao comércio infernal, aos demônios, aos feiticeiros, às ciências ocultas... de Collin  de Plancy.

Fala-se de uma seita de filósofos otimistas que existiam outrora na Arábia e que empregavam todo seu espírito e nada encontrar de mau. Um doutor desta seita tinha uma mulher insuportável, que ele aturava há muito tempo, mas que, enfim, acabou por estrangular e achar que fez bem. O califa o fez empalar como culpado, e ele sofreu a punição sem se queixar. Como os assistentes espantaram-se com sua tranquilidade, disse-lhes: “Mas não estou bem empalado?” Concluiu-se ainda que o diabo levava um filósofo da seita, e este último se deixava levar tranquilamente: “É preciso que se chegue a algum lugar, ― disse ele ― e tudo será para o melhor.”

Collin de Plancy, Jacques-Albin-Simon (1794-1881). Dictionnaire infernal, ou Répertoire universel des êtres, des personnages, des livres, des faits et des choses qui tiennent aux apparitions, à la magie, au commerce de l'enfer, aux démons, aux sorciers, aux sciences occultes... (3e édition entièrement refondue) par J. Collin de Plancy. 1844.

Nos habitat, non Tartara, sed nec sidera coeli, Spiritus in nobis qui viget illa facit


Que tal sugerir a magia como uma espécie de metafísica empírica ou experimental? Por que não? Vivendo o tempo em que o chamado magnetismo animal esteve em alta e, junto a ele, o hipnotismo de salão, não é de admirar que Schopenhauer tenha se permitido examinar todos esses fenômenos, encontrando neles uma confirmação de sua filosofia.
Esse magnetismo animal expressaria nada menos que a própria vontade, a vontade em si. Ela faria mesmo desaparecerem as barreiras individuais. Entre o magnetizador e o sonâmbulo, o estado de clarividência também escaparia ao mundo fenomenal, sujeito ao tempo e ao espaço, à proximidade e a distância, ao presente e ao futuro. Assim, a despeito de inúmeras razões e preconceitos, difundia-se a opinião, que aos poucos alcançava o status de certeza, de que o magnetismo animal e os seus fenômenos seriam em parte os mesmos da antiga magia, essa arte antiga e maldita tão duramente perseguida não apenas nos séculos cristianizados como ainda em todos os tempos e entre todos os povos, inclusive selvagens. De notar o quanto foi punida, seja pela Lei das XII Tábuas, seja pelos livros de Moisés, seja pelo XI Livro das Leis de Platão. As chamadas curas simpáticas estariam também aí incluídas.
Maleficium et Fascitatio...
O modo de conhecer que nos é natural não permite a percepção imediata das coisas. [Somos mediados pelos sentidos.] Se nos fosse dado, todavia, perceber as coisas em si, só então poderíamos rejeitar a priori o pressentimento do amanhã ou a parição dos mortos. É que acreditamos em uma física, não em uma metafísica, e é por aí que se decreta que não há uma magia natural. Todavia, em todas as épocas e lugares, se alimentou a crença de que, além da maneira normal pela qual se produzem as trocas via relações causais, deveria existir algo inteiramente diferente, que não dependeria dessas relações. E, mesmo no domínio da causalidade, em que agimos como natura naturata, também poderíamos agir como natura naturans, quando o microcosmo pode ser, por um instante, macrocosmo, ultrapassando o muro de separação que o princípio de individuação e do isolamento constitui. A tal ideia, contudo, se oporia a experiência, é verdade. Contudo, haveria um sentimento interior todo-poderoso da vontade, essência íntima do homem e da natureza. Na vontade agiria o próprio poder mágico. As ações, as palavras, as conjurações enfim seriam veículos por meio dos quais o ato de vontade individual que deve agir magicamente deixaria de ser um simples desejo para revestir-se de um corpo.
A Igreja perseguiu a magia, sobre a qual foram superpostas intenções frequentemente criminais, mesmo diabólicas. Esse zelo, contudo, teria surgido em parte de um pressentimento obscuro e inquietante de que a magia nos remeteria ao seu verdadeiro lugar: o de uma força original: Urkraft, em alemão, força primária, enquanto a Igreja, por sua vez, se encontraria fora da Natureza, seria exterior a ela. Essa força primária não estaria nem no inferno nem nas estrelas do céu, mas dentro de nós, como espírito que nos habitaria, e Schopenhauer nos lembra, ao final, Agrippa de Netteshein, que escreveu exatamente isso: “Nos habitat, non Tartara, sed nec sidera coeli, Spiritus in nobis qui viget illa facit”.

Louva-deus

Definitivamente tudo o que nos cerca é motivo para inspiração: desde que ela exista, encontrará sempre o que a motive. 
Por isso se vive, se espera, se acredita. 
Do contrário, morre-se, ou ― coisa bem pior, aliás ― nos tornamos zumbis, como tantos que andam por aí. 
Simples assim. 

Inspiração

Inspiração é um pouco a própria vida. Ao menos a parte dela que pode valer a pena. Porque só a inspiração pode transformar pedra em arte, em ser que olha, extasia-se, respira, vive, enfim.

Larvas Astrais

Ouvi por aí que há larvas astrais. Então, por conta da imaginação, que é quase tudo, dei-me ao trabalho de pensar em como seriam elas. Talvez se escondessem, pensei. Talvez permanecessem encapsuladas antes de eclodirem. Talvez fossem sensíveis à luz. Talvez fossem cinzentas, ou lindamente coloridas. Como saber? Penso que nada disso faz o menor sentido, mas sei também que pouco importam os sentidos quando se navega no oceano imaginário, onde a impossibilidade só é limitada pela própria imaginação, ou pela falta dela. Dessa sorte, decidi que as larvas podem ser assim, bem como desenhei e depois pintei. Por que não? Aconchegadas em si próprias, na paz do azul mais puro, sonhando com uma existência que ainda não conhece limite algum. Larvas. Sei... Bobagens dos místicos. Pode ser. Mas nem por isso elas inspiram menos a minha imaginação. Ainda mais hoje. Ainda mais em dia de Carnaval. Eu,hein?


Templos

A realidade do Templo pode se traduzir no imaginário com não menor riqueza de detalhes. Antes, a estes últimos, acrescenta-se toda riqueza de uma dada subjetividade.
Neste caso, o Templo é aquele da artista que o desenhou com seus traços firmes, suas cores fortes, decididamente.
Há um relógio e uma cruz, símbolos que dialogam na chamada dos fiéis. Há escadas, rumo ao alto. Há flores, porque a natureza é obra, que se rejubila da própria criação perante o seu criador.
Mas é sobretudo na perspectiva, mais exatamente na falta dela, que a artista mostra sua superação em relação ao real. Porque o que sentimos é, talvez, mais confiável do que aquilo que percebemos.

Mais sobre a artista.

Pelicano Eucarístico

Na simbologia da Igreja Católica, representa a eucaristia, traduzindo a doação do próprio sangue de Cristo face à remissão dos pecados. A ave, segundo a lenda, oferece o próprio peito às bicadas dos filhotes, na falta de peixes, seu principal alimento.

Águas lunares

O que dizer das águas lunares? Como sabê-las? Belas águas e luas são aquelas que habitam a imaginação dos homens, instigados, há milênios, a decifrar coisas do céu e coisas da terra. Água e Lua, provocativas e cambiantes, encantam e fascinam a humanidade desde tempos que refogem ao alcance de nossas memórias. E ainda que nossa humilde Lua não passe de um satélite, corpo celeste empobrecido de grandeza diante de um universo repleto de infinitos, e ainda que mares e oceanos sejam meramente H2O em sua maior parte, no fundo, no fundo, alguma coisa inerente à nossa humanidade persiste duvidando da razão. Não fosse assim, não festejaríamos tanto essas águas matrizes e mães, purificadores e sacralizadas. Mares e oceanos potencializados pela luz do luar fertilizam a imaginação. Águas lunares. Ciclos eternos encadeando a vida que se renova em cada morte individual, em cada ser que, fatalmente, deixa de existir como si mesmo e, afundando no azul profundo, segue os reflexos incertos que servem de ladrilho ao caminho cuja existência é tão teimosamente afirmada. Confesso que ouço encantada toda essa poesia, mas que nada sei. O que importa mesmo é que os homens continuem a acreditar, a imaginar, a terem neles a esperança que os Mestres já não têm mais.

Assimilação

O deserto que petrifica, também dissolve e assimila. Ação do vazio sob a luz intensa, direta, que não admite nem mesmo o alívio das sombras. Como representar esse processo doloroso que acontece quando, de roldão, nossa individualidade se relativiza, dissolve e é, enfim, passivamente assimilada? Perder-se de si é expor-se, passivamente, a esse processo. Em que pese o espaço do si mesmo se dimensione de mil maneiras e não corresponda sempre exatamente àquilo que se entende como zona de conforto, ainda assim, é ali o lar do eu de cada um, eixo em torno do qual gravitamos quando tudo o mais é não eu. Existir é contrapor-se ao mundo. Existir é conhecer a dor de uma consciência que só se assimila pela entrega consciente: pelo arcano sacrificial.

Da lisonja & da Vaidade

Verdade que nem sempre há sinceridade nas críticas. Muitas têm por objetivo a desqualificação, seja da criação, seja do criador. Mas a lisonja, os elogios demorados, todo aquele mel que envolve as palavras... Ah, não vale a pena acreditar nisso.
Por outro lado, vale a pena observar de quem parte a lisonja, não raro uma habilidade que, bem manejada, leva muita gente muito longe.
Investir na arte de lisonjear seguramente tem retorno mais rápido e lucrativo. Aliás, há mestres nisso, não tanto pela própria competência quanto por nossa infeliz tendência a acreditarmos em tudo que nos valoriza. No fundo, no fundo, a velha vaidade, vaidade, sempre a vaidade.


Íncubos e Súcubos

Da biblioteca dos Mestres do Imaginário, a obra na qual Sinistrari desenvolve a originalíssima teoria segundo a qual haveria animais racionais íncubos e súcubos, dotados, como os homens, e corpo e de alma e igualmente redimidos por Jesus Cristo e passíveis de salvação e danação.

Amorosas Mães

Mil Marias, Ave. Amorosas mães cujo manto encobre e protege. De onde esses mitos femininos que povoam as coletividades tão regular e insistentemente? De onde essa necessidade de preservar a ideia de um feminino fértil, que concebe e gesta. Receptiva de todas as inconsciências, ela transmuta desejos inconfessados de proteção. O grande útero acolhedor que guarda e preserva persiste sempre como figura talvez maior dentre as que povoam o universo simbólico.

A Boca do Inferno

Mestre de Catarina de Clèves, A Boca do Inferno, 1440, 
Nova York, Pierpont Morgan Library.
ECO, Umberto (org). História da Feiura. Rio de Janeiro: Record, 2017.