Os Muitos Sentidos da Transgressão e do Pecado

Muito a seu modo, filósofos, artistas e poetas definiram e conceituaram aquilo que depois foi, pouco a pouco, reivindicado por legisladores, cientistas e demais corporações do saber preocupadas em tornar formalmente explícitas certas situações onde a transgressão social parecia merecer castigos e punições. Afora a contribuição formal e bastante específica dos legisladores, que começam mesmo como representantes da divindade, editando proibições e limites, ao mesmo tempo em que estabelecendo penas, houve a voz do artista, a voz do filósofo e a voz do poeta, plano de fundo que realçam as formas onde quase sempre acontecia especial destaque para o crime e para o criminoso, enfim, para o transgressor. Encontramos, e podemos mesmo identificar com certa facilidade ao longo da história, um nítido espírito de denúncia que nos aponta este transgressor, inserindo-o num cenário muitas vezes dramático. Não é incomum o destaque dado ao herói antigo, — que muitas vezes desafia a lei positiva dos homens, — mas que encarna, todavia, o espírito de justiça, apontando um desajuste ou descompasso entre os planos formal e ideal que é denunciado na obra.

A Sociedade Vive de Verdades

Uma verdade é descoberta por um sábio. Contai os mentirosos que a exploram, desde os industriais que a colocam em seus prospectos até os teóricos que a alojarão, bem ou mal em seus sistemas. Alguém descobre que existe ferro no sangue; em seguida, cem farmacêuticos colocam à venda pílulas de ferro de eficácia mais ou menos duvidosa proclamada incontestável por mil certificados de médicos mais ou menos convencidos. A vulgarização das ciências seria moralizadora, se ela contribuísse para desenvolver a veracidade. Mas ela não produz esse efeito senão que sobre uma muito fraca parte do público, a saber, não sobre o fabricante ou o político que fazem da ciência um instrumento de dominação e de riqueza, nem sobre o romancista ou o poeta que lhe pedem novas emoções, mas apenas sobre o sábio que emprega a ciência para fazer progredir a ciência, modo de emprego muito especial e muito raro. O organismo social, em suma, defende-se contra a verdade que o assalta de toda parte, como o organismo natural, contra as intempéries e as forças físicas. Ele precisa dela, como o ser vivo precisa de agentes exteriores, contra os quais, todavia, está em luta constante, e sem os quais ele morreria. Do mesmo modo, a sociedade vive de verdades, de conhecimentos sempre renovados; ela consome, para se lhes assimilar, todos aqueles que seus sábios e seus filósofos lhe fornecem. Estes últimos estão situados nos confins do mundo social que eles estão encarregados de colocar em relação com o universo, quase como as células epidérmicas e os tecidos do olho recebem o choque das vibrações aéreas ou etéreas e as transmitem ao interior do corpo, onde se rompem em mil fragmentos e se alteram de mil maneiras[1].

[1] TARDE, Gabriel. La Criminalité Comparée, 7ª edição, Alcan, Paris, 1910, 215 páginas, pág. 208.

Menstruum

Alkahest em alquimia. Usado para dissolver e coagular simultaneamente, porque óvulo carrega vida e forma do menstruum também chamado de Mercúrio dos Filósofos.

Vitrais


A luz filtrada por vitrais possui um encanto todo seu, que convida à reflexão. É uma luz cheia de silêncios, representativa de tudo o que só se revela mediante condições muito especiais.

A Tríade Neoplatônica

A tríade neoplatônica – o Uno, a Inteligência e a Alma do mundo – foi apresentada por Macróbio na seguinte forma: o Bem, a Inteligência e a Alma. O Bem é o princípio e a fonte da Inteligência; esta, o princípio e fonte da Alma. A Inteligência contém as idéias e os nomes; a Alma as almas individuais. Em um sentido semelhante às religiões de mistérios e aos Oráculos caldeus, Macróbio também concebeu as almas individuais como espíritos caídos das esferas superiores para a matéria, e que ao passarem pelas esferas adquiriram suas faculdades, desde a razão até o impulso da nutrição. Estes espíritos estão ligados em sua parte superior às esferas celestes, que constituem sua pátria e para a qual ascendem após terem sido liberadas da prisão do corpo – FERRATER MORA, José. Dicionário de Filosofia.http://www.ferratermora.org/ency_filosofo.html
Ref.: Macróbio

Fernando Pessoa

Pensar em Deus é desobedecer a Deus,
Porque Deus quis que o não conhecêssemos,
Por isso se nos não mostrou...
Sejamos simples e calmos,
Como os regatos e as árvores,
E Deus amar-nos-á fazendo de nós
Belos como as árvores e os regatos,
E dar-nos-á verdor na sua primavera,
E um rio aonde ir ter quando acabemos!...

Alberto Caeiro, em "O Guardador
de Rebanhos".
(in http://www.insite.com.br/art/pessoa/

O Alfabeto

As pranchas deveram ser cobertas, no início, com desenhos e signos mnemotécnicos invocadores daquilo que convinha preservar do esquecimento. Os iletrados são engenhosos, e nós lhes devemos os rudimentos de uma escrita hieroglífica mais sábia em seu gênero que a nossa. Ela obrigava a imaginação a trabalhar como não mais sabe fazer em nossos séculos de progresso alfabético. A prática mais antiga de uma arquitetura digna desse nome constrangia a uma certa contabilidade de salários e distribuições na natureza. Cada obreiro assinava assim sua obra com a ajuda de uma marca raspada na pedra concluída. Encarregado de dirigir o trabalho dos obreiros, um escriba cuidava das assinaturas compostas de alguns traços gravados, figuras análogas aos mais antigos caracteres alfabéticos. Pode-se mesmo perguntar-se se o mais antigo alfabeto não tomou de empréstimo a forma das letras a partir das marcas de empreiteiros. Um esquadro maçônico não desenha um “g” (ghimel) do alfabeto fenício, e o triângulo eqüilátero não desenha um “d” (daleth)? Os construtores assinavam também uma cruz simples, dupla ou tripla que se encontra no tau, no zain e no samek. Praticamente, o secretário esclarece a Loja moderna, lembrando-lhe as decisões que ela tomou e que seria tentada a esquecer. Ele garante também a correspondência, graças a qual a Luz vem à Loja do exterior.
Oswald Wirth

Mestre por Mestre

Pois é. Mestre por Mestre, tem um aqui no Parque da Redenção de Porto Alegre que faz o maior sucesso... Anda com Ibope em alta, especialmente em dias de sol, como ontem.

Iniciação Feminina

"Infelizmente, um feminismo mal compreendido incita a mulher de hoje a masculinizar-se, como se se considerasse inferior e sentisse a necessidade de elevar-se à masculinidade. Equivoco lamentável e também traição à feminilidade! A mulher difere do homem e rende homenagem à sua força; enquanto o homem, — se ele admira a mulher, — é precisamente quando ela se caracteriza como tal. Conscientemente ou não, rende homenagem às suas qualidades peculiares, inclusive quando brilham por sua ausência. Enfim, o homem quer encontrar na mulher dotes de complemento que a ele faltam precisamente. E inútil nos alongarmos mais sobre esse ponto. Basta reconhecer que, segundo acabamos de ver, a iniciação feminina deve diferenciar-se essencialmente da masculina, contanto que seja Iniciação verdadeira. Se se tratar tão-só dessa iniciação meramente simbólica e convencional, cujos ritos não hão de traduzir-se numa transformação de nossa vida, é de todo indiferente que homens e mulheres fiquem submetidos às mesmas cerimônias ridículas. Os homens que tiveram a idéia de aplicar às mulheres as provas de seu ritual masculino provaram ipso facto que o simbolismo maçônico era, para eles, letra morta. A maçonaria mista nasceu pela força dessa época de ignorância absoluta do significado do cerimonial maçônico, que os maçons mais clarividentes consideram apenas sobrevivência de um passado formalista e ignorante."
Oswald Wirth

Coisa dos Bons Primos

Os Bons Primos tinham um ritual de mesa. O garfo era identificado como o ancinho; a faca, com a machadinha; o molho era a terra; o assado tornava-se o carvão; o vinho simplesmente brasa ou cavacos; a água chamava-se de a brasa má e o copo, joeira.

Reflexões

Todo olhar que vê é carregado de uma subjetividade que é preciso não perder nunca. Olhares neutros nada veem, a não ser o que lhes dita uma racionalidade à qual cabe perpetuar a realidade esgotada. Só a imaginação pode descortinar as paisagens que cada um de nós carrega dentro de si, elaborando-as com as fantasias que a sensibilidade inspira, diante de fadas e dragões.

Anticoncepção

Acreditava-se que, para não conceber, era preciso que a mulher cuspisse na boca de um sapo por três vezes.

De um a cinco

I. Mão contra mão significa que empregarei sempre minhas mãos para servir meus Irmãos nas suas necessidades.
II - Pé contra pé significa que não temerei desviar-me do meu caminho para ir ajudar meus Irmãos.
III - Joelho contra joelho significa que eu me ajoelharei diante do Ser Supremo para interceder por meu Irmão como se fosse por mim.
IV - Peito contra peito, para simbolizar a fiel guarda dos segredos que me forem confiados.
V - A mão esquerda nas costas designa que apoiarei sempre meus Irmãos tanto quanto me seja
possível.

A Ferramenta Verdade

Se a realidade não é esse universo econômico e sistemático que nossa lógica gosta de se representar, se ela não é sustentada por uma armadura de intelectualidade, a verdade de ordem intelectual é uma invenção humana que tem por efeito utilizar a realidade de preferência a nos introduzir nela.

Bergson. Ensaio composto para servir de prefácio à obra de William JAMES sobre o Pragmatismo.

Unidade

De outras coisas nunca farás o Um, enquanto não te houveres, primeiro, convertido no Um.
Dorn

Santidade


Impressionou-me essa imagem, na verdade um detalhe, dessa santidade, quem sabe aviltada, quem sabe pós-modernizada, tornada reclame, embalagem, anúncio de conteúdo.

Eros e o Poder

Ali onde predomina o amor não há vontade de poder, e onde há predominância do poder, não há amor. Um é a sombra do outro. Aquele que se coloca do ponto de vista do eros tem o oposto compensador na vontade de poder. Mas aquele que enfatiza o poder tem como compensação o eros. Vista do ângulo unilateral do posicionamento da consciência, a sombra é uma parte de menor importância da personalidade, e por isso é reprimida por uma intensa resistência. Mas aquilo que é reprimido precisa tornar-se consciente para que se crie uma tensão dos opostos, sem a qual não há possibilidade da continuidade do movimento. De certa forma, a consciência é em cima e a sombra é embaixo, e como o que está no alto sempre tende a descer às profundezas, o quente ao frio, assim toda consciência, talvez até sem perceber, busca por seu oposto inconsciente, sem o qual ela é condenada à estagnação, ao assoreamento ou à fossilização. Só nos opostos é que a vida se acende.
JUNG, C. G. Sobre o Amor. Aparecida, SP: Idéias & Letras, 2005, p. 37.

O Círculo

A Dra. M.L. von Franz explicou o círculo (ou esfera) como um símbolo do self: ele expressa a totalidade da psique em todos os seus aspectos, incluindo o relacionamento entre o homem e a natureza. Não importa se o símbolo do círculo está presente na adoração primitiva do sol ou na religião moderna, em mitos ou em sonhos, nas mandalas desenhadas pelos monges do Tibete, nos planejamentos das cidades ou nos conceitos de esfera dos primeiros astrônomos, ele indica sempre o mais importante aspecto da vida — sua extrema e integral totalização.
O Homem e seus símbolos, C. G. Jung

Curiosidade

A Proscrição dos Antigos Cultos

"Quando o cristianismo proscreveu o exercício público dos antigos cultos, obrigou os partidários das religiões a se reunirem em segredo para a celebração dos seus mistérios. A estas reuniões presidiam iniciados que estabeleceram logo, entre os diversos matizes destes cultos perseguidos, uma ortodoxia que a verdade mágica lhes ajudava a estabelecer com tanto mais facilidade, quanto a proscrição reúne as vontades e estreita os laços da fraternidade entre os homens. Assim, os mistérios de Isis, de Ceres Eleusina, de Baco, se reuniram aos da boa deusa e do druidismo primitivo. As assembléias se realizavam ordinariamente entre os dias de Mercúrio ou Júpiter, ou entre os de Vênus ou Saturno; aí se ocupavam dos ritos da iniciação, trocavam sinais misteriosos, cantavam os hinos simbólicos, uniam-se por meio de banquetes e formavam sucessivamente a cadeia mágica pela mesa e a dança; depois separavam-se, após terem renovado os juramentos entre as mãos dos chefes e recebido as suas instruções. O recipiendário do Sabbat devia ser levado à assembléia com os olhos cobertos pelo manto mágico, com o qual o envolviam inteiramente; faziam-no passar sobre grandes fogueiras e faziam, ao redor dele, ruídos espantosos. Quando descobriam o seu rosto, ele via-se rodeado de monstros infernais e em presença de um bode colossal e monstruoso, que lhe ordenavam de adorar. Todas estas cerimônias eram provas da sua força de caráter e da sua confiança nos seus iniciadores. Principalmente a última prova era decisiva, porque apresentava, a princípio, ao espírito do recipiendário, alguma coisa humilhante e ridícula: tratava-se de beijar respeitosamente o traseiro do bode e a ordem era dada sem cerimônia ao neófito. Se recusava cobriam-lhe a cabeça e o transportavam longe da assembléia com tal rapidez, que ele acreditava ter sido carregado pelas nuvens; se aceitava, faziam-no girar ao redor do ídolo, e aí ele achava, não uma coisa repelente ou obscena, mas o fresco e gracioso rosto de uma sacerdotisa de Isis ou Maia, que lhe dava um beijo maternal; depois era admitido ao banquete".
LEVI. Elifas. Dogma e Ritual da Alta Magia. São Paulo: Pensamento, Ed. Digital por Alvares Montelli.

Príncipe Adepto

Os Querubins e respectivos planetas governados e cores: Miguel - Saturno - Negro; Gabriel - Júpiter - Alaranjado; Uriel - Marte - Vermelho; Zaraiel - Sol - Dourado; Hamaliel - Vênus - Verde; Rafael - Mercúrio - Azul; Tsafiei - Lua - Prateado. Querubins, para a tradição judaica, são os Arcanjos Planetários, também conhecidos por Malakins. Eles trazem uma espada na mão, pois são os Guardiões do Santuário. No Altar de cada um deles há uma lâmpada da respectiva cor planetária.
P.S. Adonai; R. Abrac (meu pai); P.P: Stibium (antimônio).
B. !!!!!!
É noite sobre a Terra, porém o Sol está no meridiano da L.
Os homens seguem sempre o erro: poucos o combatem, poucos chegam ao lugar santo.

A Velhice

"Logo depois, estava retratada a Velhice, um passo atrás do lugar que deveria ocupar, pois ela mal se mantinha em pé, de tão velha e maltratada. Sua beleza havia murchado, tornara-se muito feia. Tinha a cabeça velha e branca, como se os cabelos tivessem florescido. Meu Deus, sua morte não seria uma grande perda nem uma grande desgraça, pois todo o seu corpo havia secado e se enrugado pela idade. Seu rosto, cheio de rugas, outrora fora suave e liso; agora estava repleto de cicatrizes. Suas orelhas eram cabeludas e não lhe restava nenhum dente, pois havia perdido todos. Era tão velha que parecia que não podia andar quatro passos sem a ajuda de muletas. O tempo, que corre noite e dia sem pausa nem repouso, passa por nós tão silenciosamente que por um momento acreditamos que ele se deteve, quando na verdade nunca descansa nem deixa de correr, de forma que não se pode pensar que existe o presente; e, se perguntares a um homem douto nas letras, antes que ele tenha respondido, haverá transcorrido três tempos. O tempo, aquele que não pode ser detido e que sempre avança sem voltar, como a água que flui sem que regresse uma gota; o tempo, a quem ninguém resiste, nem o ferro, nem qualquer outro objeto duro; o tempo, que faz com que as coisas cresçam depressa, que rapidamente cria e tudo destrói e faz apodrecer; o tempo, que envelheceu nossos pais, que envelheceu prematuramente reis e imperadores, e que todos nós tornará velhos e adiantará nossa morte; o tempo, que tem o poder de envelhecer todas as coisas, a havia envelhecido tanto que, em minha opinião, fez com que ela não pudesse amparar-se sozinha, e assim, a fez retornar à infância, pois não tinha mais capacidade, nem força e juízo que um menino de um ano de idade. Embora, segundo creio, ela tivesse sido discreta e culta quando estava na idade madura, nada havia lhe restado e ficara atordoada". ROMANCE DA ROSA, Guilherme de Lorris (1200-1230). Trad.: Sonia R. Peixoto.

O sentido das representações


Construir sentidos para as representações que Bosch coloca em seus trabalhos constitui-se em um dos mais instigantes desafios à nossa intuição. A racionalidade empobrecida se recusa a admitir que o imaginário possua sentidos ou significados relevantes; paradoxalmente, as formas e as cores atuam sobre nós, e todas as aberraçãos contidas na tela terminam por conformar uma nova estética, um novo olhar, novos olhos que se abrem em nossa própria interioridade.

A Túnica de Nessus

...trata-se do mito da túnica de Nessus. Para que Héracles se
unisse a ela pelo amor e pelo desejo, Dejanira envia-lhe uma magnífica túnica que
tinha recebido de Nessus, embebida num filtro de amor; tratava-se, porém, dum
filtro de morte, de tal modo que Héracles sentiu o seu corpo envenenado e as veias
queimadas por uma chama inextinguível. O suicídio de Dejanira foi inútil. Somente o
pôde salvar a sua transfiguração sacrificial pelo fogo no monte Oeta onde, todavia,
sofreu a fulminação divina; através dela foi Héracles transportado para o Olimpo
onde desposou Hebe, a juventude eterna. [...] A mulher elementar que se evocou, absorveu e se fez entrar no íntimo, pode transformar-se no princípio duma sede mortal e inextinguível. Nesse caso, só o fulminar olímpico poderá reconduzir ao objetivo original, imortalizante da união.

Július Évola, A Metafísica do Sexo

Souberas...

Oh! Souberas quantas coisas dizem sobre o século vindouro, tiradas da Astrologia e dos nossos profetas! Afirmam que em cem anos a nossa época contém mais feitos memoráveis que o mundo inteiro em quatro mil; e que neste último século se editaram mais livros que nos cinqüenta anteriores. Falam também da maravilhosa invenção da imprensa, da pólvora e da bússola, coisas estas que constituem outros tantos indícios e instrumentos da reunião de todos os habitantes do mundo em um só redil. Expõem igualmente como tudo isso aconteceu enquanto tinham lugar grandes conjunções no triângulo de Câncer e no momento em que a ápiside de Mercúrio se adiantava a Escorpião, sob a influência da Lua e de Marte, com o seu poder para uma nova navegação, novos reinos e novas armas. Mas, quando a ápiside de Saturno entrar em Capricórnio, a de Mercúrio em Sagitário, e a de Marte em Virgo, depois das primeiras grandes conjunções e após o aparecimento de uma nova estrela em Cassiopéia, surgirá uma nova monarquia e reformar-se-ão as leis e as artes, ouvir-se-ão novos profetas. Texto de 1602, de CAMPANELLA, da obra UTOPIAS DO RENASCIMENTO, México: Ed. Fondo de Cultura Economica, 1941. P. 202, in SARAIVA, Antônio José. História da Cultura em Portugal, Lisboa: Jornal do Foro, 1955, Vol. II, p. 15/16.

Invidia

Os gregos fizeram da inveja um deus, pois a palavra phthonos, que exprime esse defeito em grego, é uma palavra masculina; para os romanos, porém, era uma deusa chamada Invídia, palavra que derida do verbo que designa olhar com maus olhos. Romanos e gregos, uns e outros, para se garantirem contra esse olhar, recorriam a várias práticas que hoje teríamos por supersticiosas. A inveja era representada como um velho espectro feminino de acentuada magreza. Sua cabeça e mãos eras cercadas de serpentes, os olhos eram fundos e estrábicos, a tez era lívida. Algumas vezes aparecia ao lado de uma hidra de sete cabeças. Uma cobra roía-lhe o coração.

Necrópole



Sonhar que se mora numa cidade nova e desconhecida significa morrer dentro em breve. De fato, os mortos habitam algures, não se sabe onde. Gerolamo Cardano, Somniorum Synesiorum, Basilea, 1562, I, 58, in Eco, Umberto, O Pêndulo de Foucault, Record, Rio de Janeiro, 1989, p. 349

Interpretar o Mundo?

Sabedoria e loucura aparecem na natureza élfica como uma só e mesma coisa; e o são realmente quando a anima as representa. A vida é ao mesmo tempo significativa e louca. Se não rirmos de um dos aspectos e não especularmos acerca do outro, a vida se torna banal; e sua escala se reduz ao mínimo. Então só existe um sentido pequeno e um não-sentido igualmente pequeno. No fundo, nada significa algo, pois antes de existirem seres humanos pensantes não havia quem interpretasse os fenômenos. As interpretações só são necessárias aos que não entendem. Só o incompreensível tem que ser significado. O homem despertou num mundo que não compreendeu; por isso quer interpretá-lo.
Jung
Imagem: Wikipedia Commons

Segmento


Igrejas são sempre solenes. Ainda as mais simples sempre têm alguma imponência, algum mínimo resquício de grandeza em seus prédios.

Símbolos, Arquétipos e Mitos

O símbolo sempre é ambíguo. Este é o segredo de sua finalidade. Já os arquétipos são um exemplo de padrões culturais. Eles mudam e também morrem. A cultura dá sentido ao mundo em que vivemos; mitos não se opõem à realidade, antes eles se constituem em formas de apreensão desta, uma espécie de estímulo ao pensamento.

Cemitérios

É na ritualização desses arquétipos naturais, diante dos quais nossa razão se mostra impotente para fornecer uma explicação, que a cultura cria seus símbolos. Identificar esses símbolos, palavras, comportamentos, hábitos, formas de construção, decifrar parte desse simbolismo, é algo que se coloca diante de nós como um desafio à sensibilidade, onde cada túmulo aparece como esfinge a interrogar e, ao mesmo tempo, a nos contar uma história toda construída com imagens, nomes, datas, frases, palavras, esculturas, enfim.

O Imaginário

O imaginário do qual falo aqui, e que serve de base até mesmo ao título que escolhi para este blog, pode ser definido como um imenso sistema que abrange idéias e representações que os homens criam para dar sentido ao mundo, a si mesmos e à própria realidade que experimentam. Os homens estão constantemente empenhados na construção de discursos de toda ordem, aí incluídas as ideologias vigentes e sua expressão literária, artística, política e mesmo histórica. Os imaginário muda constantemente, e para bem se conhecer uma época é preciso penetrar o imaginário então vigente, identificando os homens que ali viveram, como e onde viveram, em que acreditavam e, sobretudo, o que esperavam do futuro. As crenças são uma das mais importantes expressões do imaginário, e ao longo da história muitos mestres conduziram homens no difícil caminho da construção de algo que pudesse dar e sustentar um sentido transcendente à vida. Aos Mestres do Imaginário assina-se uma importância fundamental na formação da identidade de cada tempo e lugar.

Eternidade

Existe no Universo um ponto, um sítio privilegiado, de onde todo o Universo se desvenda. Nós observamos a criação com instrumentos, telescópios, microscópios, etc. Mas, ali, bastaria ao observador encontrar-se nesse sítio privilegiado: num ápice, o conjunto dos fatos aparecer-lhe-ia, o espaço e o tempo se revelariam na totalidade e a última significação dos seus aspectos. Para fazer compreender aos alunos do primeiro ano o que poderia ser o conceito de eternidade, o padre jesuíta de um célebre colégio servia-se da seguinte imagem: "Imaginai que a Terra seja de bronze e que uma andorinha, de mil em mil anos, a roce com a sua asa. Quando desta forma a Terra tiver desaparecido, só então começará a eternidade..." Mas a eternidade não é apenas a infinita lentidão do tempo. É outra coisa que a duração. É preciso desconfiarmos das imagens. Servem para transportar a um nível de consciência mais baixo a ideia que não poderia respirar senão noutra altitude e entregam um cadáver no rés-do-chão. As únicas imagens capazes de transportar uma ideia superior são aquelas que criam um estado de surpresa na consciência, de expatriação, próprias para elevar essa consciência até ao nível onde vive a ideia em questão, onde é possível captá-la na sua frescura na sua força. Os ritos mágicos e a verdadeira poesia não têm outra finalidade. Eis porque não procuraremos dar uma "imagem" desse conceito do ponto para além do infinito. Será mais eficaz que dirijamos o leitor para o texto mágico e poético de Borges. Borges, na sua novela, utilizou os trabalhos dos Cabalistas, dos Alquimistas e as lendas muçulmanas. Outras lendas, igualmente antigas como a humanidade, evocam esse Ponto Supremo, esse Sítio Privilegiado. Mas a época em que vivemos tem de particular isto: o esforço da inteligência pura, aplicada à investigação afastada de toda a mística e de toda a metafísica, foi dar a concepções matemáticas que nos permitem racionalizar e compreender a ideia de transfinito.
LOUIS PAUWELS E JACQUES BERGIER, O despertar dos mágicos.

Obrigação de Silêncio

Com efeito, os pequenos mistérios convencionais são simplesmente símbolos de segredos muito mais profundos, e o Iniciado deve descobri-los conforme o programa da Iniciação. Estamos agora muito distantes das palavras, atitudes, gestos ou ritos mais ou menos complicados. Tudo o quanto afeta nossos sentidos não pode, de maneira alguma, traduzir o verdadeiro segredo, e ninguém jamais o divulgou, por ser de ordem puramente espiritual. A força de aprofundar, o pensador concebe aquilo que ninguém conseguirá penetrar sem observar certa disciplina mental. Esta disciplina é a dos Iniciados. Através das alusões simbólicas podem comunicar entre si seus segredos, mas nada, absolutamente, poderá entender quem não esteja preparado para compreendê-los. De outra parte, nada é mais perigoso que a verdade mal compreendida, daí a obrigação de calar imposta aos que sabem.
OW

Individualismo

Quem diz individualismo diz, necessariamente, recusa em admitir uma autoridade superior ao indivíduo, tanto quanto uma faculdade de conhecimento superior à razão individual; ambas as coisas são inseparáveis uma da outra.
René Guénon

Sozinha

Foi um momento especial. Ficar só dentro de um templo religioso, num final de tarde, com nenhuma outra luz que não fosse a que atravessava os vitrais. Foi uma concessão especial, para que eu pudesse testar uma câmera fotográfica. O bastante para obter esta imagem e a da postagem anterior, de um maravilhoso afresco de Aldo Locatelli.

O sentido das Coisas

A magia é lúdica. Ela só funciona quando se brinca, quando nos faz ver de outro jeito a chamada verdade real. Papel e clips, um pouco de luz, uma varinha mágica e pronto. O real é aquilo que arbitramos.

Água dos Sonhos

Nossos sonhos devem criar vida exteriormente. Para isso precisam ser regados com a água dos sonhos, a imaginação. Eis o simbolismo da carta da Estrela, o Arcano XVII, onde o elemento terra se encontra com o element água, harmoniosamente.

O Romance da Rosa

Se alguém deseja saber como deve ser chamado o Livro que agora inicio, ele se chamará O Romance da Rosa, e nele estão contidas todas as artes do Amor. O assunto é bom e novo; Deus queira que o receba com gosto aquela por quem inicio essa obra: ela vale tanto e é tão digna de ser amada que deve se chamar Rosa.
Guilherme de Lorris

Roda da Fortuna

Para nós tampouco o intelecto é útil no confronto com a esfinge da Roda. Não podemos libertar nossas energias criativas com ginástica mental nem ludibriar o nosso destino humano com respostas espertas.
NICHOLS, Sallie. Jung e o tarô. Uma jornada arquetipica. Cultrix, São Paulo, 2007, p. 185.

Simbolismo

O simbolismo é o meio mais apto ao ensinamento das verdades de ordem superior, religiosas e metafísicas, quer dizer, de tudo o que o espírito moderno desdenha ou rechaça. René Guénon